Cédric Anselin tem 40 anos e uma história de vida com contornos impressionantes. Com Zidane à mistura, Anselin passou por distúrbios mentais e esteve às portas da morte. Tudo até um contacto telefónico a salvar-lhe a vida hoje retomada.

Anselin foi campeão no Bordéus em 1998, jogou pelos sub-21 de França e participou, em 1996, numa final da Taça UEFA pelos girondinos aos 18 anos, contra o Bayern de Munique. Nessa equipa do Bordéus, figuravam nomes como… Zinedine Zidane, Bixente Lizarazu, Christophe Dugarry - campeões do mundo dois anos depois – ou até Yannick, antigo guardião de Benfica e Alverca.

Nos anos 90, a jovem promessa da academia do Bordéus aparecia na final da prova europeia ao lado de grandes referências do seu país. Antes da primeira mão da final, em Munique, os jogadores estavam a testar o relvado e Zidane questionou o jovem colega o porquê de estar tão nervoso. «Pouco antes do jogo, pensava: ‘Pergunto-me se vou faltar às aulas depois deste jogo’. Levei apenas como um jogo qualquer. Não me apercebia do que estava a viver», conta Anselin, em entrevista ao The Guardian.

O Bordéus perderia a final com um agregado de 5-1 e, no regresso às aulas, Anselin sentiu que as coisas tinham mudado como futebolista. «Não muito depois da final, no regresso ao colégio, as pessoas olhavam para mim enquanto apanhava o autocarro para a cidade», recorda.

Em 1998, com 22 anos, uma mudança de treinador nos girondinos levou-o a outras paragens. Foi emprestado aos ingleses do Norwich City, clube pelo qual assinaria vínculo definitivo. «Conheci uma rapariga que se tornaria minha mulher e assenti vida em Norwich».

Lesões, miséria e a retoma

Nos «Yellows», Anselin foi assolado por lesões e, ao fim de três épocas, o clube libertou-o. O que parecia uma reta de lançamento para uma carreira briosa, tornou-se um martírio em cascata. «Sentia-me sem esperança. Sem qualquer preparação mental», recorda.

Rumou aos escoceses do Ross County. Aí, sentiu-se só e isolado, até à promessa de um agente em ir para o México. Resultado? Acabou na Bolívia, no Oriente Petrolero. Viveu sozinho num quarto de hotel, contraiu malária e decidiu voltar a casa, à inglesa Norfolk.

No regresso, uma vida descontrolada. «Estava a ficar morto por dentro, a beber muito e o meu peso a aumentar. Um dia recebi um telefonema do meu gestor de conta no banco francês». Após a conversa, Anselin ficara a saber que perdera meio milhão de euros. «Não tinha mais nada», lembra.

Acabaria por fazer-se à vida num parque de caravanas. Ali fez manutenção para pagar as contas. Após algumas experiências nas divisões secundárias de Inglaterra, pendurou as chuteiras.

Em 2012, foi impedido de cometer suicídio pela mulher. No ano passado, esteve perto de tentar a mesma sentença. «Eu ia enforcar-me», admite.

Até que «uma luz vinda do telefone no sótão» o levou a encontrar ajuda. Esse alguém foi Clarke Carlisle, antigo jogador que Anselin conhecia e que tinha passado por problemas mentais. «Ele disse-me: ‘Não vais ficar sozinho esta noite e precisas de ir ao médico amanhã’». Na manhã seguinte, Anselin assim o fez. Passou por tratamento psiquiátrico. Recuperou, teve o braço direito do filho e retomou a sua vida.

Hoje, Anselin joga e treina no Sheringham FC, que joga no 12.º escalão do futebol inglês. Isto depois de ter jogado ao lado de Zidane. «É diferente, mas estou apenas a desfrutar de jogar novamente». Além disso, no regresso a Norfolk, ajuda pessoas com dificuldades mentais e leva comida quente aos sem-abrigo.