O tweet tinha apenas dois dias, e dava mostras de um entusiasmo fácil de entender: depois de estar quase sete meses afastado dos relvados, Thiago Alcântara sentia-se um privilegiado pelo regresso aos treinos sem limitações, com os restantes companheiros do Bayern:



O clube também saudava a recuperação quase completa do internacional espanhol: nessa segunda-feira, pôs em destaque na sua conta oficial do Youtube um vídeo compilando as intervenções de Thiago nesse treino. Uma forma simpática de lhe dar as boas vindas e anunciar um regresso iminente, ao mesmo tempo que permitia aos adeptos recuperar um pouco a memória do que andaram a perder desde 29 de março:



Foi esse o dia em que Thiago saiu lesionado nos ligamentos do joelho direito, aos 25 minutos do jogo com o Hoffenheim. Operado no início de abril, poucos dias antes de completar 23 anos, iniciou aí uma recuperação em contra-relógio, que tinha por objetivo permitir-lhe participar no Mundial do Brasil. O jogador ainda mereceu a confiança de Del Bosque para integrar a lista de 30 pré-convocados, mas um mês antes do início da prova, a 14 de maio, um comunicado do Bayern dava contas de mais nuvens negras no horizonte: a recuperação tinha-se complicado e iria obrigar a mais três meses de paragem.

O regresso ficava marcado para meados de agosto, mas quando o Bayern voltou aos trabalhos ficou claro que o problema estava longe de se encontrar resolvido. A tal ponto que, 20 dias depois de esta foto ser tirada, e de Guardiola se convencer de que teria de planificar grande parte da temporada sem contar com o seu ex-pupilo no Barcelona, o Bayern anunciava a contratação de Xabi Alonso, nova referência do meio-campo bávaro para 2014/15.



Menos pressionado para acelerar o regresso, Thiago prosseguiu o calvário que uma recuperação de lesões ligamentares no joelho sempre pressupõe. Nas suas contas de redes sociais ia dando conta dos progressos, e outubro parecia o mês que lhe traria de volta o sorriso ao rosto. Mas ao terceiro dia de treino, o clube voltou a ter de dar ao mundo a notícia indesejada: pelas 13 horas portuguesas, o Bayern comunicava que Thiago Alcântara teria de ser novamente operado devido a um problema no ligamento colateral do joelho e enfrentava uma «longa paragem». Pouco depois, o jogador dava voz ao desespero: «Porquê sempre eu? Não vou desistir, vou continuar a lutar»



A reação dos colegas de profissão não se fez esperar: companheiros atuais ou do passado, no Bayern, no Barcelona, ou na seleção espanhola, fizeram questão de deixar mensagens de ânimo ao número 6 que os bávaros foram contratar a Camp nou, pagando uma cláusula de 25 milhões que, na altura parecia claramente inferior ao valor do recém-sagrado bicampeão europeu de sub-21.






Os números, cruéis, dão conta de apenas 25 jogos oficiais cumpridos com a camisola do Bayern, desde a chegada, em julho de 2013: menos de 40 por cento do total, também devido a outras lesões menos graves que na primeira época foram obrigando Guardiola a gerir o reforço com alguma prudência, mesmo antes do problema mais grave.

Para todos os efeitos, 2014, o ano de todas as promessas, e que até tinha começado com um título de campeão da Alemanha garantido com sete jornadas de antecedência, revelou-se afinal um ano que o filho de Mazinho, campeão mundial em 1994, pelo Brasil, vai querer esquecer rapidamente. A sua qualidade nunca foi posta em causa, até porque o desempenho nos jogos em que pôde atuar confirmou tudo o que já se sabia: a eficácia de passe ao serviço do Bayern (91,6%) é apenas um dos ingredientes que fazem dele um dos grandes médios europeus da atualidade, que Del Bosque tinha desginado como sucessor de Xavi. 

O estatuto está agora ameaçado, com esta nova paragem que deverá prolongar o seu afastamento dos relvados por quase um ano. Com os adeptos do futebol a torcerem por ele, 2015 será o ano de tudo ou nada para o homem que viu o céu voltar a cair sobre a sua cabeça nesta quarta-feira.