Marinho Peres, o único treinador estrangeiro da I Liga, é uma pessoa especialmente atenta ao que se passa na selecção brasileira. Nos seus tempos de jogador, foi um dos futebolistas que conheceu o raro privilégio de vestir a camisola do escrete, tendo mesmo sido uma peça importante no Campeonato do Mundo de 1974, na Alemanha. 

Em conversa com o Maisfutebol, o treinador do Belenenses não esconde a sua tristeza pelo actual momento da selecção brasileira, que corre o risco de não ser apurada para o Campeonato do Mundo de 2002. Tristeza e mesmo... surpresa: «Olha, para ser sincero, não mesmo o que está a passar. Isto nunca aconteceu, nunca o Brasil esteve em risco de não entrar na fase final de uma Copa do Mundo. Geralmente, o acesso até é conseguido com relativa facilidade...» 

Para Marinho Peres, ainda é possível o Brasil conseguir a qualificação, mas só de uma forma sofrida: «Ainda acredito, mas de certeza que, a partir de agora, tudo vai ser mais complicado. Se conseguirmos, vai ser muito sofrido, muito suado. É pena ver o Brasil assim, um país com tantos jogadores - e tão bons». 

O técnico do Belenenses recorda que «à distância de tantos quilómetros», é difícil analisar os motivos para o que está a suceder. Mas ainda assim, arrisca alguns motivos: «Parece-me claro que o nível técnico do jogador brasileiro está a baixar. Não sei porquê, mas isso está a acontecer, parece que já não fazemos a diferença, pelo menos tanto como fazíamos dantes. Mas opções não faltam, há muitos jogadores. O problema está no colectivo. É o colectivo que está a falhar».  

«O Brasil não joga bem há um ano» 

Marinho não quer acreditar que o Brasil falhe a presença no mundial e reforça que «se isso acontecesse, seria histórico, porque nunca o Brasil falhou um mundial». «Há apenas três anos, fomos finalistas com a França, não é possível que em tão pouco tempo tenhamos baixado tanto», observa o treinador. 

Na perspectiva de Marinho Peres, «o Brasil já não joga bem há um ano». «Não foi só este empate com o Peru», ressalva. «Foi a derrota no Equador, a derrota no Chile, o empate com o Uruguai, jogámos mal com a Colômbia... São jogos a mais. Os adversário começam a olhar para nós com menos respeito e o nosso prestígio diminui».  

Será que faltam referências a este Brasil? Marinho acha que não é por aí: «Referências sempre houve e continua a haver. Há muitas escolhas, muitos bons jogadores. Conheço bem o Emerson Leão e sei que a opção dele foi dar preferência aos jogadores do Brasil. Tem chamado um ou outro que joga na Europa, mas o grosso é de atletas que actuam no Brasil, para evitar problemas com viagens e coisas dessas. Mas isso não está a resultar». 

Apesar dessa observação, Marinho Peres ressalva que, na sua opinião, o problema não está nas experiências de Emerson Leão: «Quando jogavam os mais rodados, os mais consagrados, o Brasil já estava a jogar mal. Não sei o que se passa, ainda não consegui perceber...»  

«Não há desculpas» 

Marinho julga que «o Brasil não tem desculpa» para tantos resultados assim: «Este ano, o calendário nem tem sido complicado, os jogos são espaçados, dá para preparar as coisas». Ainda assim, admite que, hoje, a qualificação seja mais difícil do que no passado: «Há algumas selecções na América do Sul que agora têm mais valor. O Peru, o Equador, entre outras. Esse é um dado novo, mas que não desculpa o mau momento do Brasil».