O Palmeiras é o novo líder, o Botafogo continua a depender apenas de si e vai para mais uma mudança de treinador, mas isso não atenua o fantasma de um falhanço épico. Há seis equipas separadas por cinco pontos na luta pelo título, com dois treinadores portugueses na corrida, quando faltam quatro jornadas mais uns acertos para o fim. O campeonato brasileiro é tradicionalmente aberto, mas 2023 supera todos os guiões. E no fundo da tabela o drama não é menor, com históricos em apuros.

A luta pelo título nesta altura

Ninguém o diria no final de junho, quando Luís Castro rumou à Arábia Saudita, deixando o Botafogo confortável na frente, com sete pontos de vantagem. Nem em agosto, quando, apesar de a equipa ter perdido tração com Bruno Lage, ainda foi aproveitando os deslizes dos rivais para dobrar o campeonato com 13 pontos de vantagem para os perseguidores, que eram então o Grêmio e o campeão Palmeiras, com Abel Ferreira no banco.

Botafogo, 13 pontos desperdiçados e um fantasma

Mas de campeão antecipado o Botafogo passou a viver assombrado pelo fantasma de um falhanço épico. Nas últimas 12 jornadas, só venceu dois jogos. Pelo meio saiu Bruno Lage, ao fim de cinco partidas sem vitórias, num período marcado também pela perda de brilho da estrela de Tiquinho Soares. Grande figura da primeira metade da temporada, o antigo avançado do FC Porto perdeu espaço com Lage, esteve ausente um mês por lesão e nos últimos seis jogos só marcou um golo, ele que tinha 15 até aí.

Lage foi substituído por Lúcio Flávio, o homem da casa que assistiu impotente do banco à quebra desportiva e mental de uma equipa que vacilou de forma dramática frente aos principais rivais - esteve a vencer por 3-0 o clássico com o Palmeiras e acabou a perder por 4-3, depois reviveu o pesadelo frente ao Grêmio, derrotado por um hat-trick de Suárez, e no último fim de semana empatou com o RB Bragantino de Pedro Caixinha.

Agora, também Lúcio Flávio está de saída e o Botafogo, cujo dono é o norte-americano John Textor, vai para o quarto treinador da época – sem contar com Cláudio Caçapa, que orientou a equipa em três jogos na transição entre Castro e Lage. O escolhido é Tiago Nunes, que deixa o Sporting Cristal e assume o desafio de tentar evitar mais um falhanço do Botafogo e dar ao clube que já foi de Garrincha, Didi e Nilton Santos o primeiro título de campeão brasileiro desde 1995.

Um novo líder pela primeira vez em 31 jornadas

Agora, o Botafogo já olha para cima, pela primeira vez em 31 jornadas – era líder desde a terceira ronda. Ainda tem um jogo a menos, frente ao Fortaleza. Esse acerto de calendário acontece a 23 de novembro e é o motivo para, teoricamente, o Botafogo ser o único clube que ainda depende de si próprio para ser campeão.

Tem sido um campeonato louco e chega-se aqui com várias equipas que a certa altura se julgariam arredadas do título de novo na luta. Como o Palmeiras, que embalou com cinco vitórias consecutivas em outubro no início de novembro para chegar agora à liderança. Ou o Atlético Mineiro, orientado por Luiz Felipe Scolari, que é a melhor equipa da segunda volta, segundo contas feitas pelo Globoesporte. Logo a seguir vem o RB Bragantino, orientado por Pedro Caixinha, outro técnico português ainda na corrida e também ainda com um jogo para acertar calendário, tal como Botafogo e Flamengo. Se contassem apenas os resultados da segunda volta, o Botafogo estaria na antepenúltima posição, em zona de… descida.

A história da Série A brasileira não é linear e já foi revista várias vezes. Ainda recentemente a CBF reconheceu um título de campeão nacional do Atlético Mineiro em 1937, bem antes daquela que foi considerada muito tempo a primeira edição, em 1959. Depois disso houve um hiato, houve duas épocas em que se disputaram dois torneios que reclamaram o estatuto de campeonato nacional – um dos dois títulos do Botafogo, em 1968, é dessa altura. Mas no total já houve 17 campeões diferentes. Na última década foram cinco, três vezes das quais o Palmeiras, com 11 títulos o clube com melhor palmarés no campeonato brasileiro.

Mas mesmo para os padrões do Brasileirão esta é uma temporada alucinante, com desfecho imprevisível. Ainda assim, há quem avance com probabilidades. No Brasil, é amplamente citada a cada jornada a estimativa que o departamento de matemática da Universidade de Minas Gerais elabora semana a semana, há várias épocas. Nesta altura, ela coloca o Palmeiras como principal favorito, com 45.4 por cento de probabilidades de ser campeão, seguido do Botafogo, com 28, Bragantino (15.9), Grêmio (6.4), Flamengo (3.5) e por fim o Atlético Mineiro, com apenas 0.83 por cento.

O campeonato entrou agora em pausa, para a paragem internacional, e depois entra na reta final até à decisão, no início de dezembro. Ainda há alguns duelos em perspetiva entre alguns dos candidatos, bem como vários confrontos com equipas na luta pela permanência. Que está ainda mais aberta. Já lá vamos, antes disso fica o calendário de cada candidato ao título.

Históricos aflitos e mais um treinador português pelo caminho

Há seis equipas na luta pelo título, sim, mas há mais uma dezena noutra batalha dura, a da fuga à descida. Entre elas alguns históricos. Como o Cruzeiro, bicampeão em 2013 e 2014, que começou por ter no banco o português Pepa e vai já para a segunda mudança de treinador, quando ocupa o último lugar do Z4, o grupo de equipas em zona de despromoção. Ou o Santos, histórico que nunca desceu de divisão, que esta época já andou lá pelo fundo e tem vindo a recuperar, mas está apenas cinco pontos acima da linha de água. Ou ainda o Vasco da Gama, a apenas três pontos do Z4. Mas até históricos como Internacional de Porto Alegre.

Quem já respira com alguma tranquilidade é o Cuiabá de António Oliveira, um dos quatro treinadores portugueses que continuam no Brasileirão. No início da época eram sete - oito se contarmos Vítor Pereira, que não chegou a comandar o Flamengo no Brasileirão. António Oliveira começou aliás a época no Coritiba, de onde saiu ao fim da primeira jornada, tendo assumido depois o Cuiabá, a substituir outro português, Ivo Vieira. Nesta altura soma 47 pontos, dez acima da zona de despromoção.

A luta pela permanência fez mais uma vítima entre os treinadores portugueses. Nesta terça-feira foi o Goiás a despedir Armando Evangelista, quando está no penúltimo lugar, a oito de distância da linha de salvação.

Neste momento, a única certeza no Brasileirão é a descida já confirmada do lanterna vermelha América Mineiro. Tudo o resto está por decidir nas quatro jornadas que faltam.

A classificação lá no fundo

Artigo atualizado