César Luis Menotti, diretor das seleções da Argentina, considera que o crónico problema da seleção da Argentina nas competições internacionais não se resolve com uma simples mudança de selecionador. O respeitado dirigente de 80 anos defende que o problema é essencialmente estrutural e aponta claramente o dedo à classe dirigente. «Nem Cruyff, nem Guardiola conseguiriam inverter esta história», atirou.

A Argentina chegou ao Brasil com expetativas elevadas, mas começou por perder diante da Colômbia (0-2) e, no segundo jogo, empatou com o Paraguai (1-1). «Gera-me uma grande preocupação porque o que vejo é oportunismo político da parte da classe dirigente e isso é muito negativo. Diz-se uma coisa, depois faz-se outra. Anda-se a apregoar que é preciso apoiar a seleção, mas quando é mesmo preciso são poucos os que se comprometem. É preciso apurar responsabilidades e não transferi-las», começa por destacar o antigo selecionador que está a recuperar de uma virose.

Apenas um ponto em dois jogos, qualificação para os quartos de final em risco e dedos apontados ao selecionador Lionel Sclaloni, acusado de ter pouca experiência. «Vejo-o à procura de uma base para poder afirmar-se em plena competência. É uma situação muito complexa e não passa por maior ou menor experiência. Nenhum dos que são mencionados como alternativas têm experiência ao nível de seleção, por mais clubes que tenham orientado», refere.

Um dos nomes apontado como possível «salvador» é o de Pep Guardiola, atual treinador do Manchester City, mas Menotti defende que não se trata de uma questão de maior ou menor experiência. «A seleção é outra coisa. Nem o falecido Cruyff, nem Guardiola conseguiriam inverter hoje esta história na seleção. Nem a eles correria bem. O Scaloni tem de ser avaliado, porque todos somos avaliados todos os dias. É indispensável olhar para o panorama completo. Se olharmos só para uma parte do problema, vamos voltar a errar», acrescentou de seguida.

A Argentina está obrigada a vencer o Qatar este domingo para ainda poder chegar aos quartos de final, mas Menotti considera que isso não resolverá o problema essencial. «Nada. Não muda nada. Prefiro que no domingo passe para os quartos, claro, mas quer fique ou regresse do Brasil na segunda-feira, não muda o essencial. A seleção não pode estar sujeita a lutas internas dos dirigentes que frente às câmaras passam uma mensagem de exigência à seleção, mas em privado dão outros sinais», insistiu.