Não é uma arena ultramoderna, tampouco um antigo estádio de estilo britânico ou sequer um caldeirão sul-americano. A casa do Gangwon FC é um dos estádios mais estranhos e originais do mundo. Mais propriamente, é um dois em um, onde entre março e novembro se joga futebol e entre novembro até março se salta na neve. Assim se justifica a imagem inacreditável de por detrás de uma das balizas em vez de uma bancada estarem duas gigantes plataformas de esqui – a «zona de aterragem» dos saltadores tem as dimensões do relvado.

Construído em 2008 nas montanhas de Taebaek, que se estendem ao longo da costa leste da península coreana, o Alpensia Ski Jump Stadium faz parte de um megacomplexo de desportos de neve que vai acolher os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, sediados no condado de Pyeongchang, na Coreia do Sul.

O recinto acaba de receber a Taça do Mundo de Esqui, na qual em meados de fevereiro o austríaco Stefan Kraft e o polaco Maciej Kot, bem como as japonesas Yuki Ito e Sara Takanashi, cada um na sua categoria, venceram a etapa coreana ao saltarem mais de 100 metros.

Taça do Mundo de Esqui no Estádio Alpensia:

Menos de um mês depois, o futebol tomou o lugar dos desportos de inverno, enquanto a neve desaparecia sobre o relvado que agora acolhe jogos da K-League, a liga sul-coreana de futebol.

A opção permite rentabilizar a infraestrutura para 13 mil espetadores. Porém, jogar no estádio novo também causa transtorno ao Gangwon FC, onde joga Diego Maurício, avançado brasileiro que em Portugal chegou a representar o V. Setúbal (2014/15).

Gangwon-Jeonbuk, jogo da K-League no Alpensia:

Gangwon: da costa para a montanha

O clube fundado em 2008 representa a região homónima de 1,5 milhões de habitantes, numa zona montanhosa e sem qualquer grande metrópole (junto à tensa fronteira com a vizinha Coreia do Norte). Desde o início que o Gangwon tem vivido uma experiência nómada: em menos de uma década já esteve baseado em três outras cidades, até se fixar em Gangeung, junto à costa.

No verão passado, o clube ensaiou trocar a cidade com vista para o mar pela nova casa no meio das montanhas. A escolha parecia experimental, mas acabou por ser assumida nesta época em que o clube subiu ao escalão principal pela primeira vez na sua história. Há, desde logo, um problema com esta mudança: o Alpensia fica a quase 50 quilómetros da cidade, o que equivalve a mais de meia-hora de distância de carro.

Os adeptos têm de fazer uma deslocação considerável e pagam os bilhetes mais caros da Liga para verem um espetáculo comprometido pelo mau estado do relvado – como poderia estar em perfeitas condições depois de tantos meses debaixo de neve?

Ainda assim, apesar de ter preferido jogar longe da sua base de apoio para dar uso a um «elefante branco» olímpico, cerca de cinco mil adeptos do Gangwon marcaram presença na estreia frente ao campeão Seoul FC, numa derrota por 1-0, na 2.ª jornada, a 11 de março. Desde então, o Gangwon, sexto classificado da K-League com oito pontos em seis jornadas, graças a duas vitórias fora de casa, ainda não venceu no seu novo estádio: empatou por duas vezes (Pohang Steelers, 2-2, 3.ª jornada e Jeonbuk Motors, 1-1, 5.ª) e voltou a perder com Suwon Bluewings (1-2), no passado sábado.

Falta vencer para que o Gangwon comece a sentir o Alpensia como sua casa. Independentemente dos resultados, a bola rola continuará a rolar na estância de esqui num dos estádios mais incríveis do mundo.