Em 1992 a Ucrânia teve o seu primeiro campeonato de futebol próprio depois da desagregação política da União Soviética. O vencedor da então estreante Primeira Liga ucraniana foi o Tavriya Simferopol.

Foi um momento histórico do clube da Crimeia. Vinte e dois anos depois, em 2014, o Tavriya fechou na sequência da anexação pela Rússia da península banhada pelo mar negro. A «Crise da Crimeia» afetou o futebol naquela região do mundo de várias formas – como se sabe –, mas o extinto Tavriya está preparado para fintar o destino político e voltar a constar do mapa futebolístico.

A federação ucraniana anunciou nesta semana a decisão de «reavivar» o «legendário clube», aquele que foi «o primeiro campeão da Ucrânia independente», como fez questão de destacar o presidente do organismo, Andriy Pavelko, num comunicado citado pela AP.

A agência noticiosa norte-americana refere também que o clube ficará sedeado na cidade de Kherson com o antigo presidente do Tavriya Simferopol, Serhiy Kunitsyn, responsável pelo dossiê – ele que já tinha festejado a conquista do outro troféu do clube no pós-independência: a Taça da Ucrânia em 2010 [com a gravata vermelha].



O SC Tavriya foi fundado em Simferopol em 1958. O clube ucraniano ganhou alguns títulos regionais dentro da União Soviética e chegou a campeão da segunda divisão da antiga República Socialista. Os anos mais gloriosos foram os já referidos da pós-independência.

A «Crise da Crimeia» com a anexação do território pela Rússia, em março de 2014, levou à extinção do clube uns meses mais tarde. O site do SC Tavriya também parou em agosto do ano passado registando ainda o último resultado e o 15º lugar na liga ucraniana – a prova passou a ter apenas 14 equipas a partir desta época com a exclusão do Tavriya e do Sebastopol.

O SC Tavriya Simferopol foi extinto. Do seu lugar surgiu o FC TSK Simferopol logo em 2014, com um emblema praticamente igual e a jogar no mesmo estádio Lokomotiv.



O TSK Simferopol, assim como o SKChF Sebastopol (também antes FC Sebastopol) – e ainda o Zhemchuzhina Yalta (das divisões secundárias ucranianas) – estavam para começar a disputar a terceira divisão russa e ainda chegaram a jogar a Taça da Rússia.

Mas o protesto da federação ucraniana junto da UEFA – que (no âmbito da FIFA) tem o poder de autorizar ou proibir clubes de mudarem de federação – conseguiu bloquear a transferência geográfica, com o organismo europeu a anunciar um estatuto de «zona especial» para a Crimeia.

Em dezembro do ano passado, o secretário-geral da UEFA, declarou que «a federação da Rússia não pode organizar jogos na Crimeia sem o acordo da UEFA e da federação da Ucrânia» e que nesta altura «a Crimeia será considerada uma zona especial». Gianni Infantino fez questão de remeter a decisão para os estatutos da UEFA e da FIFA e de distanciar o organismo europeu de qualquer consideração «política», mas antes a trabalhar «em benefício do futebol».

A anexação da Crimeia pela continua por ser reconhecida pela maioria dos países, os combates entre militares ucranianos e separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia continuam. Por enquanto, não se consegue prever um final para esta crise. O Tavriya fechou, mas não morreu. Fez-se à vida e quer renascer mesmo que passe a ser de Kherson.