Nota prévia. Se a segunda parte do Barcelona-Atlético Madrid fosse uma réplica da primeira, o grande motivo de interesse da segunda meia-final da Supertaça espanhola seria o «sururu» entre João Félix e Lionel Messi no regresso para as cabines ao intervalo.

Depois do avançado português ter reagido a um dedo na cara de Jordi Alba, o seis vezes melhor jogador do mundo encostou-se a Félix, que encarou o argentino olhos nos olhos.

Tudo ficou por aí. As discussões e uma primeira parte horribilis, com totais culpas de uma equipa colchonera que, à semelhança de em outras noites, renunciou ao jogo e defendeu constantemente com onze jogadores atrás da linha da bola, sempre à espera do erro dos catalães mas também refém da sorte e da inspiração de Jan Oblak.

FILME, FICHA DE JOGO, FÉLIX vs MESSI E OS CINCO GOLOS EM VÍDEO

No final da primeira parte, as estatísticas atestavam bem a superioridade catalã: 75 por cento de posse e quase 400 passes contra pouco mais de 100 de Félix e companhia. A bem dizer, os dados no final do jogo mostraram que o resultado foi cruel para o detentor do troféu, que acumulou erros defensivos difíceis de compreender quando se está em vantagem no marcador.

Dezassete segundos chegaram para perceber que a segunda parte seria forçosamente diferente da primeira. Na primeira ação em campo, Koke, acabado de ser lançado para o lugar do ex-portista Herrera, inaugurou o marcador.

Depois de resistir à tentativa de invasão culé, o Atlético chegava à habitual zona de conforto de El Cholo: defender um 1-0, mas ainda que a engrenagem preferida dos madrilenos continue a ser a marcha-atrás, não o faz hoje de forma tão competente como no passado.

Aos 51 minutos, Messi fez o empate através de um remate de pé direito após abordagem demasiado macia de Koke e Savic.

O Barça arrancou aí para um autêntico recital de futebol-total.

Nem parecia, perdoe-nos, a equipa orientada por Ernesto Valverde, tão desviada do seu ADN de décadas. Messi, Griezmann a funcionarem de olhos fechados, mas o argentino acima de todos os outros.

Aos 59 minutos celebrou o bis, mas um toque da bola no braço encostado ao corpo obrigou o árbitro, à luz das novas regras, a anular um golo que contaria três minutos depois para Griezmann, que marcou de cabeça à antiga equipa na recarga a uma primeira tentativa de Suárez travada por Oblak.

Se o jogo já estava partido, mais ficou a partir daí. Se é verdade que o Atlético cresceu após as entradas de Vitolo e Llorente, há que dizê-lo que não cabia ao Barcelona continuar a assumir as despesas do jogo e expor-se a contra-ataques de uma equipa que continuava a demonstrar incapacidade para ter bola.

Mas é mais forte do que eles.

Antes do empate do Atlético aos 81 minutos – Morata na conversão de um penálti após derrube de Neto a Vítolo – os catalães ainda tiveram mais um golo anulado, por fora de jogo milimétrico de Vidal antes do chileno assistir Piqué.

Os derradeiros minutos foram eletrizantes. De um lado, onze homens zangados com a sorte do jogo e, do outro, um exército reanimado.

Aos 86 minutos, Morata, que havia isolado Vitolo no lance do penálti, repetiu a dose da mesma zona de ação, desta feita para Correa e após abordagem displicente de Piqué. O argentino não desperdiçou e deu a vitória ao Atlético, que se junta ao Real Madrid na final marcada para domingo.

Quem diria que depois daquela primeira parte ainda iríamos escrever sobre um grande jogo?