Que grande Atlético! Que título! Que feito impensável...

O futebol está de parabéns.

Numa liga de espanhola completamente dividida entre dois extraterrestes (o Barcelona e o Real Madrid), o bem mais modesto Atlético de Madrid conseguiu a proeza de se introduzir no meio de uma rivalidade histórica para ir até ao fim: para ir até ao título de campeão. 

Fê-lo através de um futebol vigoroso, físico, atlético e cheio de carácter. Um futebol assumido desde o início e defendido até ao último segundo do campeonato. Até ao último alívio de Tiago de cabeça na área, como se fosse um central, num espírito de solidariedade único.

Não há muito tempo um anúncio publicitário do clube fez furor nas redes sociais. Uma criança perguntava ao pai porque eram do Atlético de Madrid, um clube que nunca ganhava...

Pois a resposta está dada: porque este Atlético tem uma fibra, um temperamento e um carácter inigualáveis.

Recorde a ficha e o ao minuto do jogo do título

O At. Madrid tinha tido duas oportunidades para garantir o título de campão nas duas últimas jornadas, mas falhara: perdeu com o Levante e empatou em casa com o Málaga. Tinha três jornadas para fazer três pontos, e ao fim de duas tinha apenas um ponto.

Por isso foi decidir tudo a Camp Nou.

Um empate bastava-lhe, mas pela frente encontrou um estádio completamente pintado de azul, grená e amarelo: um estádio a rebentar de entusiasmo pelas costuras.

No fim de uma época terrível, na qual o Barcelona deixara de ser o Barcelona, a equipa mantinha mesmo assim a expetativa de ser campeã nacional. Depois disso, só sobrava um desafio maior: ganhar a Volta à França sem colocar as mãos no volante da bicicleta.

Mas há um aspeto que merece ser sublinhado: este Barcelona já não é realmente o Barcelona. Encontrou pela frente um Atlético feito de fibra e nunca conseguiu justificar realmente a vitória.

É verdade que durante quinze minutos ainda foi virtualmente líder da liga espanhola, mas Godín encarregou-se de colocar um mínimo de justiça no resultado. Até porque aquele golo de Alexis Sanchez, aos 33 minutos, tinha caído um pouco do céu. Contra todas as expetativas, o chileno aproveitou uma bola perdida na área para fazer um golaço enorme.



Até então, lá está, só tinha havido um remate perigoso: Dani Alves cruzou e Pedro Rodriguez cabeceou por cima da barra. Uma jogada que contraria o AND do Barça e que foi um caso único.

Por isso aquele golo soava um bocadinho a injustiça. Até então o jogo tinha estado dividido, embora o Barça tivesse mais bola, tinha estado sofrido e tinha estado sobretudo muito lutado.

O At. Madrid despertou nos minutos finais da primeira parte, Raul Garcia atirou ao lado e a equipa acabou em cima do Barça. No regresso dos balneários, aí sim, a formação de Simeone foi ainda mais ela própria. Atlética, pressionante, vigorosa e intensa.

Por isso chegou ao empate aos 48 minutos: na sequência de um canto, Godín entrou no fulminante na zona de finalização e cabeceou picado para o golo.



Um golo muito celebrado e que devolvia tudo ao início: o Atlético estava na frente da Liga.

Depois disso, e naturalmente, o Barcelona voltou a pegar na bola e a pressionar um Atlético que se fechou sobre a defesa, nunca contudo tendo deixado de tentar sair em contra-ataque. O Barcelona insistiu, insistiu, insistiu, mas todas as jogadas acabavam em cruzamentos sem critério para a área.

O que no fundo diz tudo sobre o que foi o Barcelona esta tarde.

Só por uma vez, aliás, criou perigo: quando Messi marcou mesmo, aos 63 minutos, mas o golo foi anulado por fora de jogo. O argentino rematou realmente adiantado em relação à defesa, as imagens não permitem perceber se a bola lhe chegou de um colega ou de um jogador do Atlético.

O jogo acabou com Pinto na área adversária e o Atlético Madrid a fazer a festa: muito merecida.

A formação de Simeone começou o jogo a perder Diego Costa e Arda Turan por lesão logo nos vinte minutos iniciais, dois jogadores fundamentais nesta equipa, mas teve ainda assim força para passar para trás da corrida e acabar na frente. Épico, portanto.

O Atlético é campeão pela décima vez na história, conquistando um título que já não ganhava desde 1996: quando Radomir Antic comandava uma equipa com mais talento e menos nervo, da qual o capitão era curiosamente Diego Simeone.

O argentino merece um estátua: por ele, pelo clube, pelo futebol. O que fez esta tarde é histórico.