Depois de vários anos a «ameaçar», desta vez o Maiorca interrompeu mesmo um ciclo de 36 anos nos escalões profissionais do futebol espanhol. A descida ao terceiro escalão deixou o português Nunes de coração apertado, ou não fosse o estrangeiro com mais jogos pelo clube.

«O Maiorca vai ser sempre o meu clube. Fui bem tratado em todos os emblemas que representei, mas estive lá nove anos. Quando estás assim tanto tempo no mesmo sítio, o sentimento tem de ser recíproco. Fico triste, pois sei o que é aquele clube, o que é estar na primeira, e agora vê-lo na 2ª Divisão B…fico triste», assume o antigo central, em conversa com o Maisfutebol.

«Já não tenho jogadores do meu tempo, mas tenho pessoas amigas com as quais mantenho contacto. Não se esperava este desfecho, até porque há pouco mais de um ano o clube foi vendido a um empresário norte-americano», recorda.

Nunes fala de Robert Sarver, que comprou o Maiorca em janeiro de 2016. O também dono dos Phoenix Suns (NBA) «injetou muito dinheiro e disse que o projeto era subir ao principal escalão em três ou quatro anos».

«Muitas vezes o futebol não tem lógica, e o dinheiro não faz tudo. Os resultados não apareceram e criou-se incerteza, gerou-se mau ambiente em redor da equipa. Acabou um histórico por descer e agora as coisas estão muito complicadas. O futuro do Maiorca está um bocado no ar», lamenta Nunes, que destaca as despesas elevadas de um clube com dimensão considerável.

«Não quero ser desagradável, mas há muita gente no futebol que de futebol pouco percebe. Algumas pessoas são importantes pelo dinheiro que podem colocar nos clubes, mas gerir um clube não é gerir uma empresa. O Maiorca cometeu muitos erros. Tinha lá gente com experiência mas foram buscar gente nova, que conhecia pouco o futebol. E pode haver dinheiro mas não compras bem…não foram para lá pessoas qualificadas», defende o antigo capitão «rojinegro».

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Nunes representou o Maiorca entre o início de 2006 e meados de 2014, altura em que pendurou as chuteiras. Já depois disso passou pelos bancos de Gil Vicente e Famalicão, como adjunto de Nandinho.

«É um papel diferente. Costumamos dizer que só sabemos o que passam os pais quando temos filhos. Aqui é igual. Como jogadores temos uma visão, e quando passamos para treinadores começamos a ter outra», diz o antigo central, que numa fase inicial ainda sentiu a tentação de entrar no campo.

«Depois a natureza coloca-te no teu lugar. Mas é gratificante, passar aquilo que oste aprendendo com vários treinadores e colegas que tiveste», brinca.

À espera de uma nova oportunidade, Nunes não planeia, pelo menos para já, uma “promoção” a técnico principal.

«Tenho a perfeita consciência que não tenho capacidade para tal. Ainda tenho de aprender muito. Jogar vinte anos como profissional dá alguns ensinamentos mas não garante que vais ser treinador. Tenho consciência que ainda não estou capacitado para liderar um projeto. Ainda tenho muito que aprender», diz.