Os entusiastas adeptos da Bósnia-Herzegovina, por vezes dados a excessos pirotécnicos, gostam de se referir à sua seleção nacional de futebol como ‘os dragões bósnios’. A expressão tem uma base histórica – dizem que é uma alusão ao general Husein Gradascevic, conhecido como ‘o Dragão da Bósnia’, que lutou pela autonomia bósnia no século XIX.  

A alcunha - mais agressiva do que a alternativa ‘lírios dourados’ que era usada pelas primeiras seleções nacionais do país após a independência – bem pode inspirar uma equipa que vai defrontar uma seleção já apurada para fase final, chega tranquila, tem mais qualidade e que vem de garantir a qualificação no dilúvio … do Dragão.

A Bósnia tem apenas nove pontos e está no quarto lugar do Grupo J, depois de somar três vitórias e quatro derrotas na fase de qualificação. Está a quatro pontos da Eslováquia, que ocupa, nesta altura, a segunda vaga de acesso à fase final.

Precisa mesmo de uma vitória, com apenas três jogos pela frente. Ainda recebe o Luxemburgo e visita a Eslováquia, as outras seleções com hipóteses de apuramento.

Se não ganhar a Portugal e a Eslováquia vencer no Luxemburgo, já não poderá terminar em segundo lugar no grupo. No entanto, ainda pode vir a qualificar-se, uma vez que já garantiu um lugar nos play-offs, pelo desempenho na Liga das Nações da UEFA.

Contrariar a história frente ao ‘carrasco’ dos play-offs

Play-offs dos quais a Bósnia não tem boas memórias. O país nunca esteve na fase final de um europeu. Tem como grande proeza a presença no Brasil, no Mundial 2014, onde não passou da fase de grupos. Em campeonatos da Europa esteve várias perto muito perto, mas nunca lá chegou.

Em três ocasiões, os bósnios caíram nos play-offs – a primeira, para o Euro 2012, com Portugal, que já os tinha afastado dessa forma no Mundial 2010. Já para os torneios de 2016 e 2020, a Bósnia caiu frente às duas Irlandas – sim, no play-off.

Agora, vem de uma vitória animadora no Liechtenstein (2-0) no jogo de estreia no novo selecionador, o sérvio Savo Milosevic.  

Terceiro selecionador neste apuramento

O antigo avançado internacional da Sérvia (e da Jugoslávia) tem pouca experiência: treinou o Partizan de Belgrado e o Olimpija Ljubljana, da Eslovénia.

Mesmo assim, foi escolhido para juntar os ‘cacos’ de uma seleção errática e substituir outro antigo goleador – Meho Kodro, que orientou a equipa apenas em dois jogos, depois de ter, ele próprio, rendido Faruk Hadzibegic, o técnico que estava no cargo quando a Bósnia defrontou Portugal, em junho – e que só fez seis jogos no cargo.

A sua chegada, no entanto, motivou logo mais uma divisão: Kenan Kodro, avançado do Fehérvár, da Hungria, e filho de Meho Kodro, renunciou à seleção, por discordar da forma como o pai foi afastado, dizendo que as pessoas da federação estão a destruir o futebol na Bósnia.

Savo Milosevic deve optar por uma formação em 4-2-3-1, com Sehic na baliza. A defesa deve ser composta por Dedic e Kolasinac nas laterais, Barisic e Hadzikadunic no exo. Quando visitou Portugal, Hadzibegic montou a equipa em 5-3-2, com Sanicanin e Ahmedhodzic a formarem o trio de centrais com Barisic.

A outra mudança, em relação a junho, deve estar no meio-campo, onde Hadziahmetovic jogou ao lado de Pjanic e Cimirot – que devem manter a titularidade – e, desta vez, deve ficar de fora.

Stevanovic, Rahmanoviv e Demirovic serão, em princípio, o apoio direto a Edin Dzeko.

A experiência que é um posto…

O experiente ponta-de-lança, e capitão de equipa, parece viver uma nova juventude desde que se mudou para o Fenerbahce, no verão passado. Leva oito golos e seis assistências na Turquia.

Em setembro, também marcou na vitória, em casa, sobre o Liechtenstein (2-1).

Mas, se a liderança de Dzeko é importante, a ação de Pjanic e Cimirot no miolo do terreno será fundamental frente à seleção portuguesa. Pjanic pode estar longe do fulgor dos tempos da Juventus, agora a jogar no Al-Sharjah, dos Emiratos Árabes Unidos, mas ainda tem muita qualidade a pensar o futebol da equipa.

A Bósnia-Herzegovina já defrontou Portugal em cinco ocasiões e nunca conseguiu vencer. Somou quatro derrotas e um empate. Apesar disso, convém ter em conta o registo da Bósnia-Herzegovina em casa: ganhou seis dos últimos sete jogos como anfitriã.

… e as ausências

O que pode fazer falta à equipa de Savo Milosevic é a qualidade e a garra de um médio como Rade Krunic, do Milan, ou a irreverência de Benjamin Tahirovic, jovem de 20 anos do Ajax, que despontou na Roma. Ambos estão lesionados, tal como o defesa central Kovacevic, do Raków, da Polónia – que vai defrontar o Sporting na Liga Europa - mas este, na verdade, não tem sido muito utilizado na seleção.