Foram seis minutos que abalaram o mundo. Ou melhor, cinco minutos que nos fizeram voltar a sonhar e um de arrepios e aflição.  
 
Ronaldo fez o seu último jogo há um ano. Vinha da mesa de operações, de cinco meses de paragem depois de uma lesão no joelho direito. O Inter ansiava pelo seu regresso e, em pleno Estádio Olímpico de Roma, na primeira mão da final da Taça de Itália com a Lazio, o brasileiro voltou a jogar.  
 
Substituiu Zamorano aos 58 minutos. Aos 63, numa daquelas arrancadas que o popularizaram, foi direito à área adversária, fazendo sonhar os saudosos do maior jogador do mundo. Quando estava a chegar junto do português Fernando Couto o seu joelho direito cedeu. Faz hoje um ano.  
 
Ronaldo deixou um vazio no mundo do futebol. Figo e Zidane disputaram o título de melhor jogador do mundo, mas nenhum deles fez esquecer o brasileiro careca e de dentes grandes.  
 
É verdade que o Ronaldo de 99 também já não fora o jogador dos tempos do Barcelona. É verdade que desde o colapso antes da final do Campeonato do Mundo, em 98, que o Brasil acabou por perder para uma França com Zidane em estado de graça, por 0-3, a aura do avançado do Inter desvanecera-se. Mas um ano sem Ronaldo é muito, muito tempo.  
 
Nesse ano um português - Figo - tornou-se o jogador mais caro do mundo. Os 12 milhões de contos que o Real Madrid gastou para o contratar ao Barcelona quase tornam irrisória a verba que em 97 o Inter gastou para ir buscar Ronaldo também a Barcelona (6 milhões e 300 mil contos), ambas as aquisições efectuadas com o pagamento da cláusula de rescisão. Conclusão: em um ano (ou melhor, em três) o Barcelona não aprendeu nada.  
 
Num ano o Inter também não mudou. Sem Ronaldo, o clube milanês continuou a contratar avançados - Keane e Hakan Sukur, para juntar a Vieri e Recoba. Continua longe, muito longe do campeonato italiano.  
 
No final de 2000 Zidane foi coroado pela FIFA como melhor jogador do Mundo. Mas a Europa - numa votação do jornal France Football patrocinada pela UEFA - não concordou e entregou o prémio a Figo, numa divisão inédita nos últimos anos, depois de o próprio Ronaldo (em 97), Zidane (98) e Rivaldo (99) terem gerado unanimidade.  
 
Num ano o futebol no Brasil andou vários anos para trás. O país de Ronaldo conseguiu destruir o seu campeonato, organizou uma taça chamada João Havelange em que ninguém se entendia e ainda arranjou confusão quando a ia resolver. A Selecção também ia por maus caminhos e depois de resultados decepcionantes na qualificação para o Mundial mudou de treinador. Os maus resultados continuam.  
 
Com Rivaldo algo apagado num Barcelona que sem Figo se apagou, o Brasil teve de ir ao passado para se iludir e encontrar uma referência no futebol mundial. A solução foi o outro Ro da dupla Ro-Ro que a selecção canarinha tornou famosa - Romário, pois claro, que em tempos também trocou o PSV Eindhoven pelo Barcelona.  
 
Neste ano sem Ronaldo a França ganhou o Europeu, a Argentina dominou o futebol sul-americano e os clubes espanhóis impuseram-se na Europa. Ronaldo passou o ano em fisioterapia, viagens e compromissos sociais.  
 
A última recordação de Ronaldo é de dor - a que fez jogadores de Inter e Lazio levarem as mãos à cabeça quando se viu o joelho do brasileiro estalar, numa mudança de direcção. As exibições do único ano que passou em Barcelona (o de 96/97, suficiente para o imortalizar entre os grandes do futebol mundial) subsistem como recordações cada vez mais ténues. O futebol precisa de um dos seus heróis.  
 
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