Edmundo, internacional brasileiro, esteve esta quinta-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro que está a investigar vários casos relacionados com o futebol no país. O jogador esteve presente no âmbito das investigações sobre o contrato entre a Selecção do Brasil e a Nike, falando sobre a utilização de Ronaldo na final do Campeonato do Mundo de 98, depois de ter sofrido um ataque convulsivo. 

Edmundo era o jogador que deveria ter substituído Ronaldo nesse jogo, depois de o avançado brasileiro se ter deslocado a um hospital para realizar exames, mas o então ponta-de-lança do Barcelona acabou por ser titular. O que a CPI pretende apurar é se a Nike tinha influência na escolha dos jogadores para a Selecção e se a utilização daquele que era então considerado o melhor jogador do mundo se ficou a dever à pressão da empresa de material desportivo. 

O ataque de convulsões de Ronaldo teve lugar por volta das 15 horas do dia da final, recordou hoje Edmundo na CPI, segundo descreve a edição online do jornal brasileiro Estado de São Paulo. Os jogadores descansavam nos quartos quando Roberto Carlos entrou no quarto de Edmundo e avisou que Ronaldo estava a passar mal. Ronaldo espumava pela boca e contorcia-se e Edmundo correu pelo hotel a bater nas portas e a pedir assistência médica. Segundo o testemundo do jogador, acabou por ser o colega César Sampaio a desenrolar a língua de Ronaldo, que, passada a crise, adormeceu. 

Edmundo explica ainda que os médicos da Selecção brasileira referiram a importância do jogo desse dia e pediram aos jogadores para não lembrar o caso a Ronaldo, que quando acordasse não se recordaria do que acontecera. A equipa já estava no refeitório quando Ronaldo apareceu. «Foi o último a chegar, sentou e não falou com ninguém», recordou Edmundo. A atitude do avançado - que não lanchou e se dirigiu ao campo que ficava ao lado do restaurante - preocupou os colegas, que pediram aos médicos que o levassem para ser examinado. 

Ronaldo só se juntou à equipa já no Stade de France, perto do aquecimento, alegre e sorridente. E, após uma reunião com a equipa técnica e o departamento médico, foi decidido que jogaria. 

O testemundo de Edmundo desmentiu ainda o do então seleccionador brasileiro, Mário Zagallo, prestado na passada terça-feira. Zagallo disse então à CPI que apenas tinha tomado conhecimento do problema de Ronaldo antes do lanche, enquanto Edmundo disse hoje que o treinador chegou ao quarto de Ronaldinho 10 ou 15 minutos depois do ataque. 

Edmundo garantiu ainda que houve sempre um elemento da Nike no estágio da Selecção, ao contrário do que dizia Mário Zagallo e o médico Joaquim da Matta. 

Zagallo, aliás, pouco adiantou à CPI, dizendo desconhecer o contrato estabelecido entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Nike. Aldo Rebelo, presidente da CPI, não tem dúvidas. «A Nike tinha influência na escalação, só resta saber até onde ia.» 

O então seleccionador brasileiro, no entanto, garante que tinha «liberdade total para escolher» os jogadores que bem entendesse. «Jamais houve interferência. Se isso acontecesse deixava o cargo, se não seria um fantoche.» 

Zagallo reconheceu sim que havia jogos amigáveis que não eram solicitados por si. «Eu estava no meu cantinho. Era do andar de cima que vinha a decisão.» 

A marcação de jogos por parte da Nike é, aliás, facto público, que constava inclusivamente do contrato assinado em 1997 e válido até 2006. Esse contrato previa que a empresa organizasse 50 jogos particulares com a Selecção brasileira, entretanto renegociado uma vez que o facto de a equipa canarinha ter perdido o título de campeão do mundo obrigou-a a disputar a qualificação para o Mundial 2002 e retirou datas disponíveis para jogos. 

Esse contrato entre a CBF e a Nike também dá polémica. A CPI exigiu que Ricardo Teixeira, presidente da CBF, apresentasse novamente o contrato. É que Teixeira fez chegar ao Senado a primeira versão do acordo e os deputados apenas tiveram conhecimento de que tinha havido renegociação por outra via. 

Ricardo Teixeira vai depor brevemente na CPI, tal como os jogadores Ronaldo e Roberto Carlos.