A Doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que afeta o cérebro de forma irreversível nas suas funções cognitivas, como a memória. Gerd Müller sofre de Alzheimer. O que ele significa para o desporto faz com que a memória coletiva resista à doença incurável que o afeta em particular preservando-o nas recordações que o futebol sempre guardará.

A comunicação foi feita nesta terça-feira. De forma oficial. Pelo Bayern Munique. Com as palavras do seu presidente, Karl-Heinz Rummenigge, na homenagem à importância que o goleador teve para o futebol do clube e para o futebol alemão. Gerd Müller sofre da Doença de Alzheimer. A comunicação homenageia, mas é também um pedido de respeito pela privacidade do homem que daqui a um mês fará 70 anos e que a família deseja agora resguardado dos círculos públicos.

O comunicado do Bayern informa que Gerd Müller «está doente há tempo sofrendo da Doença de Alzheimer» e destaca que «os media e o público» o «protegeram nesta situação difícil e respeitaram a sua privacidade». E revela também que a sua mulher, Uschi «pede a compreensão» pelo facto de não haver «eventos oficiais no seu 70º aniversário» no próximo dia 3 de novembro.

Gerd Müller «está a ser tratado profissionalmente desde fevereiro de 2005 com o forte apoio da sua família», refere o comunicado citando o médico que o acompanha desrevendo o «grande respeito» com que os adeptos e os media tratam o antigo jogador da Alemanha «apesar dos sinais indesmentíveis da sua doença».

«Isso foi muito importante porque é desejável para quem está num estado incipiente de Alzheimer que possa permanecer num ambiente familiar no qual se sente confortável», afirmou Hans Förstl.

O site a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer define assim «o que é a Doença de Alzheimer»:

A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). Esta deterioração tem como consequências alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária. (...) À medida que as células cerebrais vão sofrendo uma redução, de tamanho e número, formam-se tranças neurofibrilhares no seu interior e placas senis no espaço exterior existente entre elas. Esta situação impossibilita a comunicação dentro do cérebro e danifica as conexões existentes entre as células cerebrais. Estas acabam por morrer e isto traduz-se numa incapacidade de recordar a informação. Deste modo, conforme a Doença de Alzheimer vai afetando as várias áreas cerebrais vão-se perdendo certas funções ou capacidades. Quando a pessoa perde uma capacidade, raramente consegue voltar a recuperá-la ou reaprendê-la.




Rummenigge pede que se «respeite a privacidade» de Müller e da sua família da mesma forma que o antigo jogador foi um exemplo dos «valores da amizade e do fair play». No tributo que prestou no site do Bayern, o atual presidente do clube classificou «Gerd Müller com um dos maiores do futebol mundial». E declarou que, «sem os seus golos, o Bayern e futebol alemão não seriam o que são hoje».

«O Gerd foi um goleador como já não há. E em todo o seu sucesso continuou sempre modesto e contido, o que impressionou particularmente. Ele foi um jogador fantástico», disse Rummenigge daquele que ficou conhecido para os alemães com «O Bombardeiro da Nação».

Gerd Müller começou a jogar no Nördingen (1963/64) terminou a carreira como futebolista no Fort Lauderdale Strikers (1979/81). Pelo meio, jogou 15 anos no Bayer Munique (1964/79). Para o mundo inteiro, «O Bombardeiro» não ficou menos conhecido pelos 15 anos que representou o clube da Baviera e defendeu a seleção da Alemanha.

Foram também os anos mais dourados do Bayer e da «Mannschaft», especialmente os primeiros cinco da década de 1970, onde Müller jogou numa equipa e numa selação que, além de si, tinham Sepp Maier, Franz Beckenbauer, Paul Breitner ou Uli Hoeness.

Aqueles foram os anos em que Gerd Müller foi campeão do mundo (1974) e da Europa (1972) por seleções e campeão europeu de clubes três anos consecutivos (1973/74, 1974/75 e 1975/76), a que se juntam mais 10 títulos de clube: uma Taça das Taças, uma Taça Intercontinental, quatro campeonatos alemães e quatro Taças da Alemanha.



A nível individual, o jogador que não era alto, mas era exímio a jogar de cabeça, que não era veloz, mas era rapidíssimo a mexer-se quando já estava na área – o «cordeiro» fora dela com uma capacidade de aceleração invulgar para se tornar o «lobo» dentro dela pela instinto goleador – também chegou ao ponto mais alto de todos.

Entro várias outras distinções de «melhor de», Gerd Müller foi Bola de Ouro (1970), Bota de ouro duas vezes (1970 e 1972), melhor marcador do Mundial 1970 (10 golos). Com os 4 golos marcados em 1974, o internacional alemão manteve-se como o maior goleador em mundiais durante 40 anos. Só em 2006 Ronaldo «O Fenómeno» passou a marca para 15 golos. Em 2014, o também alemão Miroslav Klose tornou-se recordista de golos em Mundiais, com 16 golos.

Klose ultrapassou então Müller também como melhor marcador de sempre da «Mannschaft», com 71 golos. Mas, enquanto o avançado da Lazio precisou de 137 jogos pela Alemanha para marcar tanto, Müller marcou 68 golos em 62 jogos pela seleção. Nas provas internas, «O Bombardeiro» ainda dita a sua lei: Müller é o melhor marcador de sempre da Bundesliga, com 365 golos em 427 jogos e tem o recorde de golos num campeonato: 40.