José Mourinho abordou, logo após o final do jogo com o Southampton (1-3), na zona de entrevistas rápidas, o possível despedimento por parte do Chelsea.

Um monólogo de sete minutos numa única resposta a uma pergunta do jornalista:

«Penso que me conhecem e sabem que não fujo das responsabilidades. Primeiro, quero dizer que, por estarmos num momento tão mau, não devemos ter medo de ser honestos. Quando estamos no topo entendo que haja prazer em pôr-nos para baixo. Quando se está tão em baixo, temos de ser um pouco honestos e dizer claramente que os árbitros têm medo de decidir a favor do Chelsea. Quando o resultado estava 1-1 houve um grande penálti e, mais uma vez, não foi assinalado. Um penálti é um momento crucial no jogo quando está 1-1. E repito: se me quiserem castigar, castiguem-me, apesar de não castigarem outros treinadores, não me importo. Não é um problema para mim. Os meus jogadores mereciam-no, os adeptos mereciam-no - eu sou um adepto do Chelsea também - e, quero dizê-lo outra vez, os árbitros têm medo de decidir a favor do Chelsea. Porquê? Porque quando isso acontece existe sempre um ponto de interrogação, uma crítica. Por isso, somos sempre penalizados. Somos penalizados porque Diego Costa foi suspenso através da visualização de imagens, noutros jogos vemos penáltis claros que não foram assinalados, e os resultados são 1-1 e 1-1... Até na Liga dos Campeões, no jogo que perdemos por 2-1, até nesse jogo que é um jogo não com três mas com cinco árbitros não nos deram um penálti nos últimos minutos. Hoje, era crucial e sabem porquê? Porque à primeira coisa negativa que apareceu à minha equipa ela colapsou. A equipa está mentalmente e psicologicamente inacreditavelmente mal, parece que bons jogadores são maus jogadores, e na primeira parte não mostrámos a nossa qualidade, mas estávamos em controlo. Tivemos uma desconcentração, um erro e sofremos um golo. Na segunda parte, em condições normais, continuaríamos a fazer o nosso jogo. Não há pânico, não estamos a perder por 1-0, está 1-1. A equipa volta com um bom espírito e temos um penálti. E é um penálti gigante. E ele teve medo de assinalar, como todos têm medo de assinalar. Não há penálti e depois disso a equipa perdeu ainda mais confiança e o segundo golo é um erro individual, tal como o terceiro. A equipa tentou, tentou, mas colapsou. Estão num momento tão baixo que houve o colapso. Também sei o que estão a pensar, o que estão a dizer no estúdio, o que as pessoas imaginam sobre o que vai ou não acontecer. Quero deixar claro. Primeiro, não fujo. Segundo, se o clube quiser despedir-me tem de despedir-me, porque não fujo das responsabilidades. Ser campeão é obviamente muito, muito difícil, porque a diferença é considerável, mas estou mais do que convencido de que terminamos nos primeiros quatro lugares. E quando a época é tão má e se termina no top 4 está Ok. Terceiro, ainda mais importante que o primeiro e o segundo, é um momento crucial na história deste clube. Sabem porquê? Porque se o clube me despedir despedem o melhor treinador que teve. E a mensagem será novamente a mensagem dos maus resultados e a de que o treinador é o culpado. E se esta é a mensagem... Estes jogadores, e os jogadores da última década, penso que é tempo de todos assumirem as suas responsabilidades. Eu assumo as minhas responsabilidades, os jogadores devem assumir as suas responsabilidades, há outras pessoas no clube que devem assumir as suas responsabilidades, e juntarmo-nos todos. É isto que eu quero. Os jogadores ainda vão ter de jogar até ao final da época com o escudo de campeões na camisola, e eu quero trabalhar, como sempre. Vocês sabem que eu tenho uma grande auto-estima e uma grande ego, eu considero-me o melhor. Estou a viver o pior período da minha carreira, os piores resultados da minha carreira, e enquanto profissional isso magoa-me muito. Acontecer-me no Chelsea magoa-me duas vezes, como profissional e porque gosto muito deste clube. Foi por isso que voltei, e quero continuar. Não há dúvida, mas assumo as minhas responsabilidades e é altura de todos as assumirem também, porque quando chegamos a tantos erros individuais e medo de jogar, eles têm as suas responsabilidades. Há jogadores que estão a jogar muito mal individualmente, e eu não posso chegar aqui e nomeá-los, não é o meu trabalho, mas parece-me claro. É claro que estamos a ser penalizados por demasiados erros individuais e, como disse, tristeza gera tristeza, maus resultados atraem maus resultados, o primeiro erro é apenas o primeiro, porque a seguir vem outro. Esta equipa precisa acabar a primeira parte a ganhar 2-0 ou 3-0, para o medo desaparecer e vir para a segunda parte com as mentes livres. Isto não está a acontecer. Mas repito: os árbitros não estão a decidir a nosso favor. E quando estamos no topo querem ver-nos a cair, quando estamos em baixo, deem-nos um desconto, e sejam honestos e leais connosco, porque a equipa merece e o penálti existe, e 2-1 é uma outra história.»