De um lado o histórico Gary Lineker; do outro Pep Guardiola, cavalheiro que também dispensa apresentações.

Os dois protagonizaram uma agradável conversa no BBC The Premier League Show na qual não houve espaço para assuntos tabu. Tu cá, tu lá. Um tiki-taka de perguntas e respostas constantes: Sobre o que é mais aborrecido nos treinos, o que é mais difícil para Guardiola enquanto treinador e a adaptação à Liga inglesa de um homem que no final dos anos 80 chegou a ser apanha-bola de Lineker quando ex-jogador inglês passou pelo Barcelona.

«Lembro-me de te pedir a camisola no final dos jogos e nunca ma deste», disparou Pep antes de Lineker se desculpar com o facto de os jogadores da equipa blaugrana não estarem autorizados a oferecer as camisolas naquele tempo. «Agora têm muitas t-shirts, mas na altura tínhamos de guardar a mesma para toda a época.»

«O Barcelona não era tão rico», observou Guardiola.

Numa conversa editada com 11 minutos de duração (veja em baixo), Guardiola falou sobre a forma como teve de adaptar-se quando chegou ao Manchester City a aspectos que o aborreciam antes: o jogo direto e as segundas bolas. «Em Barcelona nunca me focava nas segundas bolas. Nunca preparei sessões de treino ou fiz análises com base nisso. É chato treinar isso. Se foi difícil adaptar-me? Sim, sim. Só gosto de treinar coisas que me agradam. Se as bolas longas constantes atrasam o futebol inglês? Não, não me parece. Se olharmos para a seleção inglesa... Eric Dier, Dele Alli, Rashford, John Stones, Lyle Walker, Lallana. Há jogadores habilidosos que querem jogar, que têm qualidade. Não vemos constantemente jogo direto. Vemos que equipas como o Chelsea e o Tottenham gostam de jogar», observou.

Atualmente a começar a segunda época à frente dos destinos dos «Citizens», Guardiola falou sobre o que mudou da temporada anterior para esta. Lembrou, por exemplo, que a equipa, por esta altura, parecia embalada como agora e acabou por ficar no 3.º lugar a 15 pontos do campeão Chelsea.

«Na última época estava muito entusiasmado. No início parecia fácil, mas depois vimos o que aconteceu [risos]. Se me perguntares as diferenças entre a época passada - que em termos de resultados está a ser até agora relativamente parecida - o sentimento de agora quando vamos para o campo é o de que vamos marcar. Agora temos mais dois goleadores e ainda o Bernardo e Leroy [Sané] no meio. No ano passada não tínhamos isso. Criávamos e criávamos, mas depois não marcávamos golos e isso acaba por ser muito duro», destacou.

Guardiola admitiu que este ano tem um plantel com mais soluções e que isso lhe traz algumas angústias. «É difícil deixar alguns jogadores de fora?»

«É a coisa mais difícil, de longe.»

«Como geres isso?»

«Preciso de ajuda com isso. É sempre um problema», respondeu Pep, referindo que tem sempre a porta do gabinete aberta para falar com os jogadores. «Às vezes batem à porta. Está aberta 24 horas. Quando me perguntam porque é que não jogam, eu digo que não sei: escolhi outro que também merece jogar», simplificou.

Apesar de defender um tipo de futebol diferente da grande maioria dos técnicos, o treinador catalão referiu que o Manchester City não será avaliado por isso. A beleza nada conta sem não trouxer resultados com ela. «Vamos ser julgados de acordo com os títulos que ganharmos. Se não ganharmos será um fracasso.»

Ao longo de cerca de uma década de carreira como treinador, Guardiola já ganhou praticamente tudo: o percurso no Barcelona dispensa apresentações e na Alemanha, ao serviço do Bayern Munique, ganhou tudo a nível interno. Qual é, então, o segredo do sucesso? «Ter bons jogadores. Não há segredos. Claro que o papel do treinador é importante. Os jogadores preferem jogar da forma que mais lhes agrada e nós é que temos de decidir como vão jogar. Mas isso é muito difícil, acredita. Eles é que jogam. Nós somos importantes, damos entrevistas como esta e as pessoas pensam que somos o segredo quando ganhamos. Mas não: é a qualidade dos jogadores que faz a dife

O papel do treinador é muito importante, claro. Qualquer jogador prefere jogar da maneira que ele gosta, por isso temos de decidir como todos vão jogar. Mas, acredita em mim, é muito difícil fazê-lo. Eles é que jogam. Nós somos importante, damos muitas entrevistas, como esta, e as pessoas acreditam nas nossas ideias e acham que segredo está em nós quando a equipa ganha. Mas é a qualidade dos jogadores.»

Por falar em qualidade futebolística, Guardiola falou de um dos seus maiores embaixadores: Lionel Messi. «Às vezes penso que ele ainda está comigo, mas já não está. É o melhor jogador de sempre. É a beleza. Melhora os treinadores, melhora os jogadores. Ele seria bom na Liga inglesa, mas penso que o lugar certo para terminar a carreira é o Barcelona.»

Numa altura em que a possível separação da Catalunha do território espanhol é um tema incontornáveis, Lineker aproveitou para testar Guardiola.

«A longo-prazo imaginas-te a treinar um dia uma Seleção?»

«Sim.»

«Espanha ou Catalunha?»

«Espanha, acho [risos]. Gostava de sentir o que é treinar no Mundial ou num Europeu», rematou.