As jogadoras da seleção feminina da Jamaica anunciaram o boicote de dois jogos da Gold Cup, a principal competição da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF), justificando a posição com os «maus-tratos constantes» da federação de futebol.

Khadija "Bunny" Shaw foi uma das jogadoras a publicar uma declaração no fim de semana, na rede social Instagram, dizendo que as atletas da seleção não iriam participar nos jogos de qualificação para a Gold Cup esta semana.

O treinador interino, Xavier Gilbert, preparou à pressa uma equipa para o jogo de qualificação da Jamaica contra o Panamá na quarta-feira, que a Jamaica perdeu por 2-1. Para domingo, está marcado o jogo com a Guatemala, em Kingston, capital jamaicana.

«Embora esta tenha sido uma das decisões mais difíceis que tivemos de tomar, sentimos que é necessário tomar uma atitude tão drástica para pôr fim aos constantes maus tratos que recebemos da federação de futebol da Jamaica», lê-se num comunicado das jogadoras, que afirmaram não ter recebido pagamentos «completos e corretos» pela participação no Mundial, no verão passado, na Austrália e na Nova Zelândia.

A Jamaica chegou aos oitavos de final pela primeira vez, antes de perder com a Colômbia, sendo que as jogadoras afirmam que a federação não pagou vários bónus pela qualificação para o mesmo torneio.

A federação reagiu, entretanto, em comunicado, afirmando que todas as dívidas com as jogadoras relativas a 2022 estão saldadas. Diz que o único pagamento pendente era o de 20 por cento do prémio da FIFA para o Mundial, sendo que as jogadoras não especificaram como os fundos deveriam ser distribuídos, mas que esses pagamentos estão a ser processados.

O organismo disse ainda que ainda não tinha recebido o pagamento total do prémio monetário da FIFA. A FIFA anunciou antes do Mundial que cada jogadora que participasse no torneio receberia 30 mil dólares (28 mil euros). O montante subiu para 60 mil dólares (56 mil euros) para cada equipa que passasse da fase de grupos, não sendo claro se as jogadoras jamaicanas receberam esses pagamentos.

Outra das queixas das atletas prende-se com o facto de não terem sido informadas sobre as mudanças de treinadores e de outros funcionários. O treinador da seleção feminina, Lorne Donaldson, não renovou contrato e a federação acabou por nomear Gilbert como interino. As jogadoras disseram que souberam que quem era o treinador pelas redes sociais três dias antes de se apresentarem para as eliminatórias da CONCACAF.

«Como sempre, é uma honra e um privilégio representar a Jamaica. O nosso trabalho é dar o melhor de nós e colocar todos os nossos esforços para representar o nosso país, deixando orgulhosos os nossos fãs, entes queridos em casa e na diáspora. Devido às circunstâncias atuais em que a federação de futebol da Jamaica nos colocou, não poderíamos fazer o nosso trabalho», acrescentaram as jogadoras, sobre um episódio que espelha a tensão na relação com a federação.

Antes do Mundial, as jogadoras já tinham recorrido às redes sociais para denunciar o que consideraram ser um apoio insuficiente. Os apelos em relação ao salário e ao apoio financeiro deram origem a duas campanhas de crowdfunding para ajudar a equipa a treinar e a pagar funcionários.