Antes de mais palavras, veja-se as imagens!



Domingo, 1 de março. Estádio Jan Breydel, em Bruges. Pontapé de saída para o jogo do campeonato da Bélgica Brugges-Mouscron. Sai Lorenzo Schoonbaert. Dá o toque na bola para Dina. O jogo, porém, só vai começar uns minutos mais tarde. Primeiro, tem lugar a ovação de vinte mil pessoas – todo o estádio, a aplaudir para o mesmo lado. Enquanto Lorenzo e Dina deixam o relvado para que, feita a homenagem, as duas equipas comecem mesmo o jogo.

Agora que se conta aqui a sua história, Lorenzo Schoonbaert já morreu. Tinha 41 anos. Estava em estado terminal. Decidiu que era a altura de morrer. Submeteu-se a eutanásia. A sua despedida da vida ficou com um dia agendado. E acabou por ficar marcada para depois da realização do seu último desejo enquanto vivo: ver o Club Brugge jogar mais uma vez.

Lorenzo viu o Brugge ganhar 3-0. E manter o comando da liga belga com um ponto de vantagem sobre o Anderlecht – a duas jornadas do fim. «O meu último sonho realizou-se. Posso agora morrer em paz. Festejarei a dobradinha depois no céu», disse depois do jogo deste domingo. No dia 22 deste mês, o seu clube e o rival de Bruxelas jogarão também a final da Taça da Bélgica.

O fim desta dedicação no domingo homenageada começou a ficar traçado nos meados de 1990, quando um acidente de trabalho deixou Lorenzo Schoonbaert com várias vértebras fraturadas. O então adolescente que pesava mais de cem quilos encetou vários tratamentos para recuperar a vida normal. Mas o processo de tratamentos trouxe-lhe também um cancro que infetou o seu organismo de forma irreversível. O adepto belga do Brugge ficou condenado.

Foram quase 40 intervenções cirúrgicas durante duas décadas. Vinte anos em que a sua paixão pelo Brugge não mudou. Em que acompanhou o seu clube onde pôde e como pôde. Na Bélgica e no estrangeiro. Sedado com morfina para poder suportar as dores. Indefetível, mesmo em estado terminal, mereceu tributo dos incógnitos.
 
 


Com a morte certa e também já com a hora determinada, Lorenzo Schoonbaert realizou o seu último sonho como adeptos do Brugge. No reconhecimento público do futebol belga. Fê-lo na companhia de Dina, a filha de 7 anos. E também ao lado da mulher, Belle. E não só. O Jan Breydel cantou-lhe «You’ll Never Walk Alone», como o «YNWA» daquela faixa já lhe garantia.

Os jogadores prestaram-lhe homenagem no relvado e, depois, em particular.
 

O guarda-redes do Brugges confessou a «falta de palavras». Como todos, não pôde dar a Lorenzo e aos seus familiares mais do que os seus sentimentos. No que se viu, aquele adeus emocionado e anunciado teve nas lágrimas de pai e filha o momento mais doloroso que se possa querer eleger. E só Lorenzo pôde encontrar as palavras: «A minha filha sabe o que vai passar-se a seguir. Eu digo-he que o papá vai transformar-se numa estrela do céu.»

Na segunda-feira à noite, na página do Facebook dedicada a este adepto do Brugge que «nunca andará sozinho», a família anunciou que Lorre morreu. Foi-lhe dada uma injeção letal. Na Bélgica, a eutanásia é permitida desde 2002. A morte assistida medicamente é um direito consagrado pela lei belga.

Realizado o seu último sonho, a realidade está no passado que fica.