André Gomes abriu o coração e a alma. Numa entrevista de rara honestidade, o internacional português fala de tudo com uma enorme sensibilidade: diz que não sabe o que se está a passar com ele, que jogar se tornou por vezes uma espécie de inferno e que tem até receio de sair à rua por vergonha.

O médio falou à revista espanhola Panenka, no meio de um turbilhão de emoções. Foi uma entrevista catártica, que se percebe que o português quer que funcione como o ponto de viragem para algo melhor.

O início é muito claro: por que ainda não conseguiram os adeptos do Barcelona desfrutar do jogador que encantou Valencia?

«Não me sinto bem em campo, não estou a desfrutar do que posso fazer. Os primeiros seis meses foram bastante bons, mas depois as coisas mudaram. Talvez a palavra não seja a mais correta, mas jogar tornou-se um pouco um inferno, porque eu comecei a colocar muita pressão», referiu.

«Com a pressão dos outros eu vivo bem, com o que não vivo bem é com a pressão que coloco em mim mesmo.»

André Gomes deixa bem claro, porém, que nos treinos se sente bem: gosta de treinar. Há sempre dias maus, claro, mas geralmente sente-se bem. O problema é quando chega aos jogos.

O internacional português até tem merecido várias oportunidades tanto de Luís Enrique, primeiro, como de Ernesto Valverde, agora, mas a verdade é que teima em não conseguir mostrar tudo o que tem para dar.

«Quando treino estou tranquilo. Claro que há um dia ou outro em que eu estou um pouco em baixo de confiança, porque mesmo nos treinos me acontece. Uma pessoa sabe que está a sofrer. Talvez por ter jogado um dia antes ou dois dias antes e ainda esteja com a imagem do jogo na cabeça, que não me permite seguir em frente», sublinha. 

«Mas geralmente nos treinos sinto-me à vontade com meus companheiros. O problema é que as sensações que eu tenho nos jogos é má.»

O problema está demasiado claro e André Gomes consegue identificá-lo: é mental.

«Pensar de mais faz-me mal. Porque eu penso nas coisas más e depois, quando tenho de fazer alguma coisa, vou sempre a reboque. Embora os meus colegas me apoiem, as coisas não me saem do jeito que eles querem que elas saiam.»

André Gomes está num labirinto e não sabe como sair dela. Até porque o feitio dele não o ajuda nada.

«Eu fecho-me. Não me permito afastar esta frustração que tenho. O que eu faço não é falar com ninguém para não incomodar ninguém. É como se me sentisse envergonhado. Já me aconteceu em mais de uma ocasião não querer sair de casa. Penso que as pessoas podem olhar mim e dá-me medo de sair com vergonha.»

Por aqui já se percebe como André Gomes está perto do limite. Ele próprio admite que explode muitas vezes. Mas nesta altura é difícil encontrar uma ponta solta que lhe permita puxar o novelo e resolver o problema.

«Os meus amigos dizem-me que tenho as rédeas disto tudo nas minhas mãos. E o que me custa mais é ter consciência de que isso é verdade. Incomoda-me que eles me digam que posso fazer muitas coisas boas. Nessas alturas perguntou-me a mim mesmo: e por que não as faço?»