Colunista do jornal espanhol «Mundo Deportivo», Paulo Futre aproveitou o texto desta terça-feira para homenagear Radomir Antic, falecido na véspera. O português recordou o dia em que o técnico o tirou da reforma e o fez voltar a vestir a camisola do Atlético de Madrid.

«Tinha encerrado a carreira em dezembro de 1997 [ndr. foi em 1996], por causa da maldita lesão no joelho direito, e comecei a trabalhar como embaixador do Atlético. Tinha o hábito de ver os treinos da equipa principal à quinta-feira, nunca falhava. Estávamos em abril [de 1997] e sentei-me no banco de suplentes. Os treinos eram abertos, e normalmente havia muitos adeptos a ver. Tinha acabado de comer e e estava, tranquilamente, a fumar um cigarro, quando Antic veio ter comigo: "Paulo, tinha pedido uns rapazes da equipa B, mas houve um engano e disseram-me agora que só estão cá daqui a uma hora. Não posso esperar e falta-me um jogador na equipa de suplentes. Por favor veste o fato de treino e anda"», recorda Futre.

O português diz que hesitou, até porque tinha acabado de comer, mas lá decidiu participar no treino de conjunto.

«Não fazia uma corrida desde dezembro, mas fui. Os suplentes querem sempre ganhar aos titulares, mas avisei logo que não ia correr, e por isso não me passavam a bola nem me davam broncas. Mas é claro que sempre foi muito competitivo, e quando a bola chegou-me aos pés, entusiasmei-me: marquei dois golos em 20 minutos. Os adeptos gritavam o meu nome, mas eu estava morto, mal conseguia respirar. Quando cheguei ao balneário o mister disse que eu estava bom para voltar a jogar, e depois tinha uma chamada do Jesús Gil a dizer-me que eu tinha de voltar», lembra ainda.

Futre intensificou os treinos e decidiu mesmo voltar a jogar, na temporada 1997/98. Foi o tal momento da apresentação da equipa em que os adeptos do Estádio Vicente Calderón nem deixaram falar o presidente, Gil y Gil, tal era a vontade de ouvir o português.

diz agora que foi um regresso «mais romântico do que futebolístico».

Foi «o momento mais emotivo» da vida de Futre, que no entanto assume agora que o regresso foi «mais romântico do que futebolístico». 

Antic é recordado como um técnico «com ideias claríssimas, com determinação para colocá-las em prática e intransigente com a indisciplina». Alguém com uma «grande personalidade».

«Muito duro quando era preciso, mas também amável e educado, com sentido de humor, com quem era possível falar. Um treinador também à frente do seu tempo, pela forma como incorporou a bola nos treinos de pré-época», recorda Futre.