O desempate por penálti. É tão especial no futebol que é causa das maiores angústias e felicidades. Cria heróis e termina carreiras. Sobretudo quando é o modo final para se encontrar um vencedor.

Roberto Baggio saiu vilão do Mundial de 1994, o primeiro a ser decidido na marcação das grandes penalidades. Já Ricardo meteu Portugal inteiro a celebrar depois de travar ingleses em 2004. E em 2006, já agora. Panenka tornou-se lenda com um só pontapé desse.

O desempate por penáltis é uma coisa tão especial que nem sempre os melhores no resto o são ali também. É algo que os mais corajosos se disponibilizam a enfrentar. Embora muitas vezes todos os jogadores sejam mesmo convocados por obrigatoriedade.

Foi o que sucedeu aos jogadores de André Villas-Boas. Suzhou Dongwu e Shanghai SPIG defrontaram-se na Taça da China e necessitaram de mais de 30 penáltis para descobrir o vencedor.

Apesar do resultado de 15-14 nas penalidades, esta maratona chinesa foi mais curta do que os dois recordes mundiais, pelo menos conhecidos, de desempates de penalidades. O oficial e o oficioso. Mas há mais curiosidades para descobrir, como por exemplo aquelas penalidades na Argentina que demoraram quase uma hora. Fernando Redondo estava lá.

O recorde oficial: quem venceu falhou sete!

O jogo da Taça da China que envolveu a equipa do treinador português teve 35 penáltis. Houve cinco tentativas desperdiçadas e o resultado final foi 15-14, para o Shanghai SIPG.

Ora, o encontro entre o KK Palace e os Civics Windhoek teve mais dois golos para cada equipa: ou seja, terminou 17-16.

No entanto, esta eliminatória da Taça da Namíbia de 2005 teve 48 pontapés de penálti até se descobrir o vencedor! Ou seja, o KK Palace, que venceu, desperdiçou sete grandes penalidades.

É o recorde dito oficial, porque ocorreu numa partida sénior e a contar para uma prova maior de um país.

Argentinos Juniors-Racing, em 1988

No campeonato argentino sucedem coisas peculiares. Desde logo o formato do atual, com 30 equipas. Em 1988/89, os jogos nunca terminavam empatados. Quer dizer, podia haver igualdades no final dos 90 minutos, mas encontrar-se-ia um vencedor depois, por penálti.

Uma visão inovadora também na pontuação: a derrota valia zero e a vitória três pontos. O empate valia um e, quem vencesse nos penáltis, tinha um ponto extra.

A 20 de novembro de 1988, Argentinos Juniors e Racing Avellaneda defrontaram-se na 12ª jornada do Torneio Abertura. No final dos 90 minutos persistia um 2-2 e, desse modo, houve marcação de penáltis.

Cerca de 50 minutos depois do início das penalidades, Videla falhou para o Racing e o Argentinos venceu 19-20! Foram apontados 44 penáltis e Videla foi um dos jogadores que bateu três deles! A isto ajudou o facto de Ruben Paz e um tal de Fernando Redondo terem sido expulsos, por agressão mútua, no decorrer da partida.

52 penáltis, 52!!!

Há pouco mais de um ano, o recorde do mundo num jogo sénior foi batido. Sim, houve mais penáltis neste encontro do que naquele que sucedeu na Namíbia.

O facto de ter sucedido num jogo do quinto escalão do futebol checo, porém, torna-o em recorde oficioso. A 5 de junho de 2016, o Maisfutebol noticiou o duelo entre o SK Batov e o FC Frystak.

Após um 3-3 no tempo regulamentar, seguiram-se 52 grandes penalidades para se descobrir o vencedor. Ora, o resultado ficou 21-20, ou seja, houve muitos penáltis falhados: 11 para se ser mais concreto.

29 pontapés sem falhar um único

Evidentemente, alguém tem de falhar para chegar ao fim o desempate por grandes penalidades. As séries relatadas anteriormente tiveram penáltis desperdiçados ou defendidos pelo meio até se encontrar o vencedor.

Na consulta aos registos que o The Guardian publicou em setembro de 2014, surge a Hampshire Senior Cup. Para melhor localização, fica no sul de Inglaterra e o clube com mais triunfos nesta prova regional é o Southampton.

A competição tem lugar desde 1887 e a edição de 2013 colocou frente a frente Brockenhurst e Andover. Escreveu aquele diário inglês que é o jogo com melhor série de penáltis consecutivos concretizados: 29 tentados, 29 marcados, até que ao 30º Claudio Herbter, do Andover falhou e colocou o resultado em 15-14 nos penáltis.

O desempate que terminou 15-15…isto é possível?

A Taça de França só fica famosa quando a ela chegam os clubes profissionais, mas na verdade ela começa por ser disputada pelos amadores. Ou seja, os clubes que militam em escalões locais e regionais também participam e entram logo na primeira e segundas ronda.

Porém, foi na quinta ronda de 1996/97 que se defrontaram Obernai e ASCA Wittelsheim. De acordo com os registos encontrados na RSSSF, fundação que compilava dados estatísticos, a eliminatória terminou 2-2 e recorreu-se às penalidades para desempatar.

Ora, 40 penáltis depois, havia 15-15. Mas já não havia luz, pelo que o árbitro decidiu acabar com a questão…e a Liga Alsácia decidiu que o Obernai, por ser de um escalão inferior, ser contemplado com a passagem à ronda seguinte.

Mundiais e Europeus e a Argentina

Antonin Panenka entrou para o imaginário do futebol por causa daquele penálti em 1976. Curiosamente, era o primeiro desempate por grandes penalidades em Mundiais/Europeus e logo numa final.

Em 1986, no México, o Campeonatodo Mundo viu três jogos decididos desse modo, mas as edições do Mundial com mais partidas desempatadas por grandes penalidades são as de 1990, 2006 e 2014. Houve quatro desempates nestes moldes.

No Europeu? O último, que Portugal venceu, teve três jogos, com a seleção nacional envolvida num deles. Mas o recorde ainda é do Euro 1996, com quatro.

Já agora, a recordista de seleções é a Argentina que por quinze vezes na sua História já teve de decidir confrontos nas grandes penalidades.

Por cá: o Belenenses-FC Porto

Em janeiro de 2010 houve Taça em Portugal. A noite foi longa em todos os aspetos. Em Alvalade, o diretor Sá Pinto desentendeu-se com o jogador Liedson. E enquanto a espera pelo treinador Carlos Carvalhal era longa na sala de imprensa de Alvalade, no relvado do Restelo fazia-se História.

Foram quase três horas para definir quem passava à eliminatória seguinte: se o Belenenses, se o FC Porto, depois de Lima ter bisado para os lisboetas e Falcao e Cristian Rodriguez terem marcado para os portuenses.

Nesse dia, a Taça originou um herói: Beto. O atual substituto de Rui Patrício na seleção e no Sporting era o guardião do FC Porto nessa noite e defendeu cinco grandes penalidades.

O duelo teve 30 penáltis e o FC Porto venceu por 9-10 nesse particular.