Autor: Marco Ansaldo*
«Precisamos de qualidade, é isso que vou pedir aos homens que puderem acrescentá-la.» O manifesto de Cesare Prandelli como selecionador italiano resultou da seguinte constatação: a Itália afundou-se sem rasto no Mundial 2010 por ter desvalorizado o lado técnico do seu jogo. «Talvez tenha sentido demasiada gratidão para com os homens que nos deram o Mundial da Alemanha, em 2006 e isso pode ter-me levado a escolher uma equipa esgotada,» admitiu Marcello Lippi depois do fiasco, para acrescentar de seguida: «Mas não deixei ninguém em casa que pudesse ter feito melhor.»
Para Prandelli, porém, havia três jogadores talentosos que o seu antecessor poderia ter levado ao Mundial: Rossi, preterido no último instante, Cassano e Balotelli, que Lippi não queria chamar, por estar convencido de que a sua personalidade traria mais problemas do que benefícios.
A ideia era passar a contar com eles, numa equipa de espírito ofensivo, com boa circulação de bola e capaz de impor o ritmo num jogo, voltando costas ao estilo clássico do calcio, com táticas defensivas e contra-ataques.
Na realidade, nunca foi possível cumprir o projeto de Prandelli, por vários motivos, a começar pelas lesões. No Euro 2012, Prandelli vai ter de gerir a ausência de Rossi, que voltou a sofrer uma rotura nos ligamentos cruzado, depois de uma outra que o tinha levado a ser operado, em outubro. Cassano teve um problema de saúde grave e, embora tenha voltado à ação em abril, seis meses depois, não estará na melhor forma durante a competição. Quanto a Balotelli, o selecionador prefere fazer de conta que o avançado que representa a Itália é muito diferente do que joga pelo Manchester City.
Prandelli esperava que a sua equipa pudesse jogar num 4-3-3 ofensivo, mas nos seus dois anos à frente dos azurri só em dois jogos de qualificação conseguiu apresentar três avançados de início: em Torshavn, contra as Ilhas Faroe, com Gilardino, Cassano e Rossi e em Belfast, contra a Irlanda do Norte, com Pepe, Boriello e Cassano. Nos outros jogos, jogou de início com dois avançados, lançando um terceiro a partir do banco, como aconteceu em setembro, quando Pazzini entrou para se juntar a Balotelli e Rossi no último jogo diante da Eslovénia, que garantiu o apuramento para o torneio, na Polónia e na Ucrânia.
Taticamente, o problema é recorrente: Prandelli afirma não ter extremos suficientemente fortes para jogar em 4-4-2, por isso o sistema predileto tem sido o 4-3-1-2, com jogadores adaptados na posição 10, uma vez que não a desempenham habitualmente nos seus clubes. Primeiro, Prandelli tentou Mauri, da Lazio, que depois se lesionou e se viu envolvido num escândalo de resultados viciados. Thiago Motta e Montolivo foram alternativas testadas, mas não convicentes. Porém, o 4-3-1-2 ainda é a formação mais provável, dando a possibilidade de converter-se por vezes em 4-3-3, com Balotelli, o italo-argentino Osvaldo e Giovinco do Parma (ou possivelmente Cassano). Prandelli foi, de certa forma, ajudado pela grande época da Juventus, que lhe permitirá dispor de um rejuvenescido trio de defesas (Chiellini, Bonucci e Barzagli) tal como dos médios Marchisio e Pirlo, de volta ao melhor nível.
Para a estreia no Euro, Gianluigi Buffon é aposta certa na baliza, com a defesa provavelmente composta por Maggio, Barzagli, Chiellini e Criscito. Se Chiellini jogar a lateral-esquerdo, então abre-se uma vaga para Bonucci no eixo defensivo. Os três médios deverão ser De Rossi, Pirlo e Marchisio com Montolivo a jogar como 10. Na frente, Balotelli e Cassano partem com vantagem sobre Osvaldo e Giovinco.
*Marco Ansaldo é jornalista do La Stampa. Este artigo está integrado na Euro2012 Network, uma cooperação entre alguns dos melhores meios jornalísticos dos 16 países participantes na competição.