Depois da glória, a descida aos infernos e, a partir daí, um renascimento surpreendente para regresso acelerado ao topo do futebol italiano. Resumidamente, esta é a história que o Parma parece destinado a cumprir.

Há dois anos, os gialloblù caíam para a Série D (quarto escalão), vergados pelo peso de dívidas que superavam os 200 milhões de euros (63 milhões em salários em atraso). No último sábado, o clube garantiu a subida à Serie B, ao vencer por 2-0 o Alessandria, na final do play-off de acesso, após os apuramentos diretos de Venezia, Foggia e Cremonese (vencedores das suas séries).

O segundo lugar, atrás do Venezia, obrigou o Parma a um esforço adicional de disputar um play-off com 28 equipas para conquistar a muito ansiada vaga no segundo escalão italiano.

Na decisão, disputada em Florença, no Estádio Artemio Franchi (casa da Fiorentina), os parmesãos tiveram apoio de peso nas bancadas e na tribuna, onde marcou presença o antigo goleador argentino Hernán Crespo (que partilhou o vídeo abaixo no final do jogo). E fizeram a festa por mais um degrau alcançado na escadaria do futebol transalpino. Uma celebração que se estendeu à noite às ruas da cidade, culminando na Praça Garibaldi.

Este ressurgimento não deixa de surpreender pela rapidez com que foi alcançado.

Mergulhado numa profunda crise financeira, que levou o levou às divisões inferiores, o clube foi refundado a 27 de julho de 2015 com o nome de Parma Calcio 1913.

Regresso com Scala e outros históricos

Um grupo de investidores liderado por Guido Barilla (indústria alimentar), Paolo Pizzarotti (construção) e Gianmarco Dallara (automobilismo) constituiu uma nova sociedade com o nome sugestivo de Nuovo Inizio, com a participação de pequenos acionistas adeptos do clube e um capital social de dois milhões de euros.

Nevio Scala, que como técnico venceu uma Taça UEFA (1994/95, troféu que o Parma voltaria a conquistar em 1998/99) e uma Taça das Taças (1992/93), regressou para ocupar o cargo de presidente e foi construída uma equipa capaz de lutar pela subida nesta temporada, com vários jogadores contratados no patamar superior, no segundo escalão: entre eles o avançado de 35 anos Emanuele Calaiò, que durante uma década mostrou os seus dotes de goleador na Serie A.

No plantel manteve-se o capitão Alessandro Lucarelli, um parmesão de nascimento, que desde 2008 representa o Parma (pelo qual já fez mais de 300 jogos) e que se tornou ainda mais ídolo no Ennio Tardini ao continuar a representar a equipa mesmo depois da queda da Serie A para a Serie D.

Alessandro Lucarelli, capitão e símbolo do Parma, faz a festa da subida à Serie B

Aos 39 anos e em final de contrato, o veterano defesa era um dos mais emocionados pela promoção à Serie B da formação que começou a época com Luigi Apolloni e terminou orientada por Roberto D’Aversa.

«Esta subida foi conquistada com os dentes. Só nós sabemos o que passámos, mas resolvemos todos juntos superar as dificuldades, seguimos em frente e provámos que temos um grande coração», afirmou Lucarelli, em lágrimas, abordando ainda o seu futuro: «Vou descansar e conversar com a minha família. Se fosse pelo meu irmão Cristiano, eu nem sequer teria disputado a Serie D, para não manchar a minha carreira. Mas, mesmo que o recomeço após a falência fosse incerto, sempre confiei na reconstrução do Parma.»

Após cinco refundações e algumas falências, a penúltima das quais em 2004, após o descalabro da gigante de laticínios Parmalat, este histórico clube de uma pequena cidade de 200 mil habitantes na região da Emiglia-Romana parece finalmente ter encontrado o seu caminho para regressar ao seu lugar no palco do futebol italiano.