Iva Olivari fez história no Croácia-Turquia da passada semana. Foi a primeira mulher a sentar-se no banco croata. Um marco para o futebol local e não só. Infelizmente, é uma visão rara neste desporto e sem paralelo no Euro2016.

Mas quem é esta mulher que desafiou as probabilidades estabelecidas para conquistar uma posição de respeito na estrutura do adversário de Portugal?

É conhecida antes de mais como tia Iva. No sábado lá estará ela ao lado do selecionador Ante Cacic, com um punhado de credenciais, os característicos óculos de massa e papelada à sua volta.

São os jogadores mais jovens que a apelidam carinhosamente de tia Iva. É ela que lhes resolve vários problemas logísticos, como se de uma segunda mãe se tratasse, enquanto trata de toda a organização da comitiva croata.

Iva Olivari é team manager (secretária técnica, por assim dizer) da Seleção desde 2012, quando a antiga glória Davor Suker assumiu o cargo de presidente da Federação.

A antiga tenista já desempenhou essas funções no Campeonato do Mundo de 2014. Porém, no torneio do Brasil tinha lugar reservado na tribuna. Agora desceu ao relvado.

Casada com um jornalista desportivo, Davorin Olivari, Iva entrou para a Federação croata no longínquo ano de 1992 e cimentou a sua posição desde essa altura. Começou pelo departamento internacional e a experiência acumulada provou ser útil para a Seleção em provas fora do seu país.

«Se alguém me dissesse há 30 anos que eu ia acabar no futebol, não acreditaria. Diria que era quase impossível, mas nunca sabemos onde a vida nos irá levar», disse Iva Olivari recentemente.

Para trás ficou a tal carreira de tenista que terminou abruptamente, devido a lesão. A mulher do banco croata brilhava com 14 anos, era campeã nacional e chegou a bater Steffi Graf num torneio da Alemanha.

«Dizem-me que eu tinha bastante lamento mas infelizmente tive de parar devido a uma lesão no pulso», desabafa.

Iva foi convidada para trabalhar na Federação Croata de Futebol e desenvolveu o seu gosto por esse desporto. É um dos elementos mais antigos na estrutura e adora o que faz.

«Estaria a mentir se dissesse que não estou entusiasmada. Todos me apoiaram, penso que gostaram da minha presença e felizmente conseguimos um grande resultado», disse, após a vitória frente à Turquia.

A Croácia renovou a sua seleção e Iva Olivari passou a ser mais velha que grande parte dos jogadores.

«Os jogadores são incríveis, gosto muito deles e eles respeitam-me. Com a geração anterior tinha uma relação de irmão-irmã, já nos conhecíamos há muito tempo. Estes já me chamam Teta Iva (ndr. tia Iva)», revela.

Schildenfeld, defesa da seleção da Croácia, salienta a importância da team manager.

«Contribui para o bom espírito da seleção e faz realmente um grande trabalho na organização, com toda a papelada, quer nas viagens quer nos jogos», explica Schildenfeld.

Numa entrevista no final de 2014, após a participação no Campeonato do Mundo, Iva Olivari detalhou as suas funções.

«Tratamos de tudo, desde a organização de viagens à comunicação com os hotéis, distribuição de quartos, menus, visas para toda a delegação, a logística com os camiões, as carrinhas, etc.»

Meses depois, Iva integrava uma comitiva da Federação da Croácia que foi alvo de uma emboscada a caminho de Split. O antigo selecionador Niko Kovac também estava nesse grupo de sete pessoas.

Hooligans conotados com o Hadjuk Split atacaram verbal e fisicamente a delegação da Federação. A disputa é antiga e motivou os desacatos em pleno jogo do Euro2016. Os adeptos exigem há muito mudanças na estrutura que gere o futebol local e optam por medidas extremas.

Iva Olivari, que está há 24 anos na Federação Croata de Futebol, lamenta a falta de compreensão dos adeptos.

«É algo que me afeta bastante, que me toca a nível pessoal e enfurece-me. Gostava que essas pessoas pudessem um dia vir aqui e percebessem como é o nosso trabalho no dia a dia, o quando damos pelo futebol e como estamos comprometidos com isto», desabafou, certo dia, na sede do organismo.