Para Janício as coisas precipitaram-se num par de meses. O cabo-verdiano chegou a Portugal há pouco mais de três anos. Depois de ter começado a jogar futebol de rua no Tarrafal, de ter passado pelo Estrela dos Amadores e pelo Barcelona local, passou então três anos na II Divisão e cumpriu no Verão passado o sonho de chegar à Liga nacional. A história não termina porém aqui. No V. Setúbal o lateral-direito ganhou rapidamente um lugar e tornou-se mesmo o único totalista da defesa menos batida da Europa.
Quando se lhe recordam todos estes factos, Janício não evita um riso aberto de prazer. «Quando cheguei ao V. Setúbal pensei que isto ia ser um bocadinho complicado para mim», confessa em conversa com o Maisfutebol. «Mas depois comecei a treinar com o grupo, os jogadores mais velhos deram-me muita moral e comecei a sentir-me mesmo à vontade no meio deles. Isso ajudou-me a entrar no grupo mais rapidamente». Hoje garante que encontrou no plantel uma família. «Reparto o meu sucesso com eles».
Porque é disso mesmo que se trata, de uma família. «Existe uma grande união no plantel», conta. «Dentro e fora de campo». Que só quem está no grupo conhece. «Estamos muitas vezes juntos, jantamos juntos, almoçamos juntos, somos colegas, amigos e irmãos, somos tudo uns para os outros. Nem parece uma equipa nova, parece que já estamos juntos há quatro ou cinco anos». Para o internacional cabo-verdiano foi uma surpresa a realidade que encontrou. Mas uma surpresa muito boa. «Os jogadores mais antigos ajudaram muitos os mais novos. Todos os jogadores novos do plantel no início de época ficavam no quarto com um jogador mais antigo e íamos mudando de companheiro de quarto, mas sempre com um mais antigo».
«Os bons resultados não têm nada a ver com os problemas financeiros»
Vem daí muito do sucesso do sadino. Contra todas as contrariedades financeiras que os jogadores passam. «Quando entrámos em campo não pensamos em nada a não ser jogar à bola e em jogar para ganhar. Mais nada», garante». «A união do grupo e os bons resultados não têm nada a ver com os problemas financeiros. Têm só a ver com o profissionalismo dos jogadores. E com o amor ao futebol». Já agora, acrescenta, tem também a ver com Norton de Matos. «É um grande treinador», diz. «Tem muitos anos de bola e conversa muito. Está sempre a falar comigo, por exemplo, a deixar-me à vontade, a dizer-me para não ficar nervoso, para não me preocupar se falhasse um passe, e a dar conselhos sobre o que devia fazer melhor. Tenho de lhe agradecer muito».