Cinco meses depois, Jorge Jesus marca encontro com a origem das dúvidas. Precisamente cinco meses depois, o treinador do Benfica revê o adversário que deu início a um ciclo negativo que se arrasta até agora, uma altura em que, mais do que nunca, se discute o seu futuro no banco encarnado.

Foi o Estoril que lançou as primeiras nuvens negras, a 6 de maio. Às primeiras horas desse dia os adeptos do Benfica ainda viviam o sonho. O clube tinha garantido o regresso a uma final europeia, 23 anos depois, liderava o campeonato com quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto, a apenas três jornadas do fim, e ainda tinha presença assegurada na final da Taça de Portugal.

Nenhum destes troféus está no Museu Cosme Damião, inaugurado recentemente. E foi com o Estoril que o sonho começou a virar pesadelo. O Benfica não foi além de um empate caseiro com os «canarinhos», e na semana seguinte foi derrotado no Dragão, com o tal golo de Kelvin nos descontos, a deixar o título nas mãos do FC Porto. Foi também em tempo extra que as «águias» deixaram fugir a Liga Europa para o Chelsea, para depois ainda perderem a final da Taça de Portugal para o Vitória de Guimarães.

O segundo pior arranque

Jesus passou de indiscutível a vaiado em poucos dias. O presidente Luís Filipe Vieira deu-lhe um voto de confiança em forma de novo contrato, mas nem o verão afastou as nuvens negras. Em apenas seis jornadas de campeonato o Benfica perdeu sete pontos, o que quer dizer que soma onze. Na Liga dos Campeões tem três, em dois jogos.

O técnico do Benfica não baixa os braços, lembra que há um ano a situação era idêntica. A verdade é que, se na Liga dos Campeões a situação é melhor (três pontos agora, quando há um ano só tinha um), na Liga o cenário é pior. Cumpridas seis jornadas da época 2012/13, as «águias» tinham 14 pontos e partilhavam a liderança com o FC Porto. Agora têm só onze e estão a cinco da liderança, ocupada por «dragões».

E se juntarmos a Liga à prova europeia, então só uma vez, com Jesus a treinador, é que o Benfica tinha menos pontos por esta altura: 12 pontos em 2010/11, e na «ressaca» do título, o ano do melhor registo (19 pontos nos oito primeiros jogos). Este ano tem 14 (4 vitórias, 2 empates, 2 derrotas), e nos ombros do treinador o peso de quatro anos sem o principal troféu. É neste contexto que Jesus volta à origem dos problemas.

A autoria do «roubo» e o peso que terá agora

O treinador do Benfica entende mesmo que foi no tal jogo de 6 de maio que o título se perdeu. Marco Silva não pensa assim. Disse-o depois, em entrevista ao Maisfutebol: «O Benfica terminou o jogo como líder, com dois pontos de vantagem. Retiramo-nos da questão do título.»

Esta ideia foi transmitida também no balneário, antes e depois do jogo. «Fizemos o nosso trabalho, pontuámos para a Liga Europa. Na minha opinião o Estoril não tirou o título ao Benfica, deu força ao Porto», defende Mário Matos, suplente dos «canarinhos» no tal jogo da Luz.

No final do jogo da Luz Marco Silva queixou-se de falta de respeito pelo Estoril. Criticou aqueles que diziam que o jogo do título tinha sido com o Marítimo, na ronda anterior. A tal vitória muito festejada em campo pelo Benfica. O técnico «canarinho» garantiu, ainda assim, que a crítica não se dirigia a ninguém das «águias». E na preparação do encontro também não utilizou isso para espicaçar o seu plantel, garante Matos: «Os festejos dos Barreiros mexeram com toda a gente. Diziam que o título estava entregue. As pessoas, na rua, diziam-nos que íamos levar três ou quatro. Mas o Marco não falou muito disso. Queria que abordássemos o jogo de forma organizada, mas sem autocarro. Disse-nos que se aguentássemos o empate até ao intervalo os adeptos podiam virar-se contra a equipa do Benfica, por causa da ansiedade.»

Mário Matos acredita que o jogo de 6 de maio «vai ter peso» no duelo do próximo domingo, mas avisa que o Estoril «está preparado». Por isso dá «50 por cento de favoritismo para cada lado». Os números sustentam este aviso: em 2012/13, para além do empate na Luz, os «canarinhos» fizeram quatro pontos frente ao Sporting. Esta época foram os únicos a roubar pontos ao FC Porto.

Não será fácil, por isso, o reencontro de Jorge Jesus com a origem das dúvidas que pairam sobre si. É que do outro lado, ainda para mais, vai estar aquele que é visto por muitos adeptos como um bom candidato à sua sucessão. «Depende da aposta do presidente. O Benfica atravessa um momento difícil, e normalmente há dois caminhos: apostar num treinador novo, para dar uma nova dinâmica, ou então contratar alguém com nome. Depende da política do clube, mas qualidade ele tem», afiança Mário Matos.