Cristiano Ronaldo decidiu abrir um museu com a sua coleção pessoal de troféus quando ainda está longe de terminar a carreira. O caso é único, dado que as grandes figuras do desporto normalmente não abrem museus por conta própria e os que existem são de memória e muitas vezes dinamizados por instituições.

O normal é que os atletas «especiais» tenham lugares reservados em museus de clubes ou até em museus do futebol ou do desporto. Assim acontece no Manchester United (várias figuras), no Barcelona (espaço Messi), no Real Madrid (várias figuras), no Benfica (com Eusébio), no FC Porto (o melhor onze) ou no Museu dos Desportos Mané Garrincha, no Rio de Janeiro. Noutras modalidades, a lenda do baseball Babe Ruth tem um museu, assim como o ex-piloto de Fórmula 1 Gilles Villeneuve.

Há, no entanto, dois casos que se aproximam do que está a acontecer agora com CR7: Maradona e Pelé, embora nenhum deles neste momento tenha um espaço no seu nome, por razões bem diferentes.

Em 2003 surgiu o «M10», uma espécie de exposição itinerante dedicada à vida e carreira de Maradona, que apresentava mais de 600 objetos relacionados com o astro argentino. Lá, inicialmente em Buenos Aires e depois em muitas outras cidades, era possível ver a braçadeira de capitão usada no Mundial do México, em 1986, a Bola de Ouro, uma boné de Fidel Castro, Taças, chuteiras e camisolas, num espaço de 2500 metros quadrados que ainda continha elementos multimédia.

A coleção foi realizada com a colaboração da ex-mulher do jogador, Cláudia Villafane, e o próprio Maradona esteve ausente da inauguração. Mais tarde, em 2008, tornaram-se evidentes os problemas com este museu itinerante e Diego recorreu à justiça para tentar recuperar as 600 peças, acusando o empresário Ernesto Texo de apropriar-se dos objetos cedidos. Resultado: não há museu Maradona para ninguém e o melhor que subsiste é uma estátua no museu do Boca Juniors.



Pelé é dos que mais tem lutado para ter um museu com o seu nome e o espaço deverá finalmente abrir portas a tempo do Mundial do próximo ano. Localizado em Santos, tem tido apoio da câmara local, assim como do governo regional de São Paulo, para além de vários patrocinadores. O astro brasileiro ainda tentou que o museu fosse desenhado por Oscar Niemeyer, mas a projeto não foi para a frente e a solução acabou por passar pela recuperação de um edifício no centro histórico da cidade.

Após muitos anos de adiamento e promessas por cumprir, o Museu Pelé está agora a ser vendido como uma estrutura com potencial para ser visitada por cem mil turistas por ano. O financiamento público está a ser fundamental para corresponder ao sonho do ex-jogador.



«Estamos a trabalhar há algum tempo para concretizar o meu sonho», disse recentemente Pelé, explicando o que será possível encontrar no espaço: «Além do acervo pessoal vai ter muita tecnologia. Será formado por três blocos, sendo o bloco principal com o acervo; o segundo bloco será uma área para serviços, como praça de alimentação, e o terceiro espaço receberá exposições de diversos tipos, no âmbito cultural e do desporto».

O imóvel tem sete pisos e será a casa de mais de 2.300 peças, além de exposições itinerantes, como a que contará a história de Pelé nos Campeonatos do Mundo. Trata-se de um projeto avaliado em cerca de 12,5 milhões de euros, que conta não só com financiamento público, mas também a ajuda financeira de várias empresas e até pessoas a nível individual, como o cônsul honorário de Portugal em Santos. Arménio Mendes doou 155 mil euros para ajudar nas obras: «Esta cidade deu-me tudo o que tenho. Nada mais justo que agradecer, participando neste projeto que já é um marco e que era disputado por outras cidades no mundo».

Digamos que Pelé terá um museu em condições, com todas as valências que se exigem a um espaço deste género. Quanto a Ronaldo, trata-se de uma sala de troféus aberta ao público que surge com o nome de museu, propondo-se a apenas fazer o resumo de uma carreira que ainda não terminou, desconhecendo-se se terá programação especial, investigação ou dinamização de outros projetos junto da comunidade local. Cristiano continua a dinamizar a sua marca e a Madeira agradece. Resta agora saber para quando será inaugurada  a primeira estátua ou uma  rua com o seu nome.