O insólito aconteceu no Distrital de Coimbra. Um jogo que tinha tudo à partida para ser calmo, entre o quarto classificado da prova, o Vigor, e o penúltimo, o Poiares, ficou marcado pela expulsão de seis jogadores, cinco titulares e até um suplente, da equipa da casa, levando o encontro a terminar aos 65 minutos.

Mário Fernandes, presidente do Vigor, contou ao Maisfutebol que nunca tinha visto algo assim. «Ainda hoje não consigo perceber o que se passou com o árbitro [Gonçalo Ferreira]. Só podia estar com algum problema, bêbado ou sob o efeito de drogas. Parecia um psicopata», disparou.

De acordo com o dirigente, as expulsões nunca envolveram jogadores da equipa adversária, apenas os atletas da casa e o juiz da partida. «Não houve sequer uma entrada dura, um lance menos correto, nada. Ele nem mostrava amarelos, era logo vermelhos», desvendou.

Assim sendo, as expulsões ficaram a dever-se unicamente a palavras. «É verdade, mas foram conversas absolutamente normais. Do género, um jogador disse-lhe: veja lá se se controla, senão ficamos sem equipa para jogar. Ao que ele responde: ai é?, então vai já para a rua!»

A certa altura, conta o presidente, o árbitro terá perdido a noção de quantos jogadores já tinha expulsado. «Quis recomeçar o jogo e disseram-lhe que estávamos a ficar sem elementos suficientes, então decidiu expulsar mais um para terminar a partida», acusou.

O encontro terminou então aos 65 minutos, quando se verificava uma igualdade a duas bolas no marcador. «No final, até os jogadores do Poiares estavam tolos com o que se tinha passado. Perguntavam-se como foi possível algo assim acontecer?»

Clube quer ver relatório

O Vigor vai agora fazer uma exposição à AF Coimbra, além de ter requerido o relatório do árbitro. «Em 20 anos de futebol, nunca tinha visto uma coisa assim. Isto nunca aconteceria em condições normais. Queremos saber o que se passou com ele, se estava ou não capaz de arbitrar um jogo.»

O juiz, que atuava no Distrital de Viseu, pediu transferência para Coimbra, alegadamente por ter vindo estudar para a cidade do Mondego. «Felizmente, conseguimos controlar bem os sócios e quem entrou em campo foram apenas dirigentes do Vigor para tentar acalmar a situação», referiu Mário Fernandes.

«Para já, vamos vetá-lo. Não permitimos mais que qualquer elemento daquela equipa de arbitragem entre nas nossas instalações. Vamos também analisar o relatório do árbitro, para perceber como justificou as expulsões, e preparar o nosso recurso», completou.

Conselho de Arbitragem vai ter cuidado nas nomeações

Esta segunda-feira, o Conselho de Arbitragem (CA) da AF de Coimbra recebeu os dirigentes do emblema conimbricense e ouviu as preocupações de Mário Fernandes, relacionadas já com o próximo jogo, para o qual o clube alega não ter jogadores suficientes.

«Conversámos sobre algo que não deveria ter acontecido, que reconhecemos não ser normal, mas não nos podemos pronunciar sobre o relatório do árbitro. Isso cabe ao Conselho de Disciplina que irá analisar o caso», confessou ao Maisfutebol Apolino Pereira, líder do CA.

«É evidente que, como responsável pela arbitragem, não fico satisfeito, é algo que não ajuda a pacificar o ambiente entre os agentes desportivos», prossegue o dirigente, que, para já, irá ter cuidado em futuras nomeações:

«Vou ter esta situação em conta, pois não queremos prejudicar nem o árbitro, nem o clube. Temos obrigação de preservar e evitar quaisquer problemas.»

Apesar de ser ainda novo, o árbitro em causa, explicou Apolino Pereira, já tinha dirigido vários jogos da Divisão de Honra e da Taça da associação. «Não foi o seu primeiro jogo sénior», garantiu.

Meia-dúzia de árbitros agredidos nas competições de Coimbra

Com um discurso semelhante, José Fontelas Gomes, presidente da APAF, mostrou-se preocupado com este caso, que se enquadra num fenómeno mais vasto. «São coisas que não queríamos que acontecessem no futebol», começou por dizer.

«Não sei se tem a ver com a crise, que leva a que as pessoas estejam cada vez menos tolerantes, mas, infelizmente, estas situações estão a tornar-se recorrentes. Isto preocupa-nos e vamos ter de fazer algo para estancar e para acabar com os estes problemas», prosseguiu.

O líder da associação dos árbitros revelou ainda que o futebol amador é bem mais complicado para o setor do que o profissional. «É onde se cometem mais excessos e violência sobre as equipas de arbitragem. A tendência tem sido, até, para um aumento destes casos nos últimos anos», revelou.

Fontelas Gomes avança dados alarmantes justamente acerca de Coimbra. «Desde do início da época, pelo que nos tem chegado, já foram agredidos meia-dúzia de árbitros nos vários escalões de competição», lamentou.

«Este tipo de declarações dos dirigentes, sempre em tom crítico, negativo, muitas vezes a colocar em causa a honestidade dos árbitros ou a insinuar erros premeditados só contribuem ainda mais para este tipo de situações. Com certeza que houve erros nesse jogo, mas não podem justificar reações daquela forma», concluiu.