Tinha de ser no fim. O melhor elogio que se podia dar até aqui à organização grega dos Jogos Olímpicos era qualificá-la de discreta, low profile, o que é sempre um bom princípio para o sucesso. Mas o que aconteceu este domingo na Maratona, prova rainha dos Jogos, é simplesmente inacreditável. Seja com prémio fair-play ou sem prémio fair-play, só um bem-disposto de um brasileiro admitiria que um estranho surgisse do nada e o empurrasse para o lado. Desta forma impensável, perdeu preciosos segundos e o seu próprio ritmo quando seguia isolado para a meta. Ninguém pode prever se lá chegaria em primeiro, pode até sublinhar-se que já ia em quebra, mas fica uma sombra enorme sobre Atenas.
Vanderlei Lima ficou muito contente com o bronze. Terá sido já muito bom. E teve uma atitude correctíssima ao aceitar o que lhe aconteceu. Tudo bem. Como 42 quilómetros não se fazem todos os dias, a organização ateniense não quis que a prova ficasse manchada com um protesto ou com o espectro da anulação. Amaciou o atleta com um prémio de desportivismo. Repetir aquele percurso não era humano, claro. A não ser para o streaker e para todos aqueles que o deixaram fazer o que fez.