Terminou Pyeongchang 2018. Só escrever já não é fácil, como não foi para quem vive num clima temperado, num país com tradição de desportos de Inverno próxima do zero e no fuso horário de Portugal acompanhar madrugadas de gelo, neve, velocidade e... curling. Mas isso não quer dizer que não tenha sido um grande evento, mais de duas semanas de competição, quase três mil atletas, 102 medalhas para 15 desportos, 92 países a participar. Com muito que contar. Agora que chegou ao fim, e com tempo para preparar Pequim 2022, o Maisfutebol olha para o que ficou dos Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul. Das grandes decisões às grandes histórias, passando pelas medalhas.

Coreias: sinais, «photo ops» e cheerleaders

O momento era delicado e a oportunidade de ouro. As duas Coreias aproveitaram os Jogos Olímpicos para dar um sinal de boa vontade e acordaram desfilar juntas nas cerimónias e participar em conjunto em algumas das provas. Pyongyang mandou Kim Yo Jong,a irmã de Kim Jong Un, a chefiar a delegação. E os Estados Unidos, com a administração Trump a endurecer o braço de ferro com o regime norte-coreano, disseram presente. Na cerimónia de abertura esteve o vice-presidente Mike Pence, para a oportunidade fotográfica ao lado dos rivais, no encerramento Ivanka Trump, a filha de Donald Trump. A fechar, mais sinais de que algo pode mudar. O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, encontrou-se neste domingo com a delegação norte-coreana e disse ter recebido sinais de disponibilidade para avançar com conversações não apenas entre os dois países separados pelo Paralelo 38 mas também com os Estados Unidos.

O que isto vai dar veremos, mas o que já ninguém tira à memória olímpica é a imagem das «cheerleaders» que viajaram com a comitiva norte-coreana.

OAR, a não muito nova Rússia

Rússia e doping, o caso arrasta-se e levou a novo boicote do COI à representação do país nos Jogos Olímpicos. Foram admitidos 168 atletas russos, mas tiveram de competir sob uma bandeira neutra. Chamaram-lhe OAR (Olympic Athletes from Russia), Atletas Olímpicos da Rússia. Daqui para a frente haverá portanto um novo «país» nos registos de história olímpica. Os atletas da OAR levaram 17 medalhas de Pyeongchang, duas delas de ouro. Incluindo no hóquei no gelo, ganha neste domingo numa final dramática com a Alemanha. O primeiro título para a Rússia desde 1992. Quer dizer, para os russos. Mas a história não ficou por aqui. Os atletas da OAR esperavam desfilar com a bandeira russa no encerramento, e havia sinais de que poderia haver abertura para isso. Mas eis que houve um caso positivo de doping de um atleta russo, no curling: Alexander Krushelnitsky tinha ganho o bronze em pares mistos, ao lado da mulher, mas a medalha foi varrida pela análise positiva. A coisa ficou tremida, mas o segundo caso de doping de uma atleta russa, na sexta-feira, acabou com as dúvidas. Nadezhda Sergeeva, que competiu no bobsleigh, também acusou positivo. Ironia, ela que tinha participado numa promoção anti-doping da marca que equipou a OAR.

E o país mais medalhado é...

A Noruega. Não apenas em Pyeongchang, mas em absoluto. Um país de pouco mais de cinco milhões de habitantes que faz disto ponto de honra. Na Noruega, os Jogos Olímpicos de Inverno levam-se muito a sério. Uma reportagem do «Guardian» recorda uma sondagem antes dos Jogos em que um quarto da população assumiu que não ia perder as grandes finais, nem que para isso tivesse que «roubar» algum tempo ao trabalho, o que não é nada norueguês. Os noruegueses gostam de dizer que nascem com esquis nos pés e fazem justiça à tradição. Agora, em 2018, conquistaram 39 medalhas, 14 de ouro. E fecharam com chave de ouro. Marit Bjoergen, que já se tinha tornado em Pyeonchang a atleta mais medalhada de sempre em JO de Inverno, conquistou ouro na última prova da competição, os 30km de cross country feminino. A esquiadora de fundo, perto de completar 38 anos, terminou a sua carreira olímpica com 15 medalhas. A Alemanha foi segunda no medalheiro, com as mesmas 14 medalhas de ouro da Noruega, mas «apenas» 31 no total.

Então e Portugal?

Esteve representado, para quem não reparou. Com dois atletas: Arthur Hanse, já repetente, e Kequyen Lam, estreante. Ambos com origens portuguesas mas vivências bem mais próximas da cultura dos desportos de inverno. Hanse foi 66º na primeira prova, no slalom gigante, e teve uma boa prestação na segunda, 38º no slalom masculino entre 106 participantes. Foi a sexta melhor classificação portuguesa em Jogos Olímpicos de Inverno. Quanto a Kequyen Lam (conheça-o melhor aqui), foi o porta-estandarte de Portugal e terminou em 113º a sua prova, os 15km de esqui de fundo. Mas participou num momento único.

Pita, Lam e Madrazo, ou o espírito olímpico numa imagem

Há muitas histórias nuns Jogos Olímpicos. E muitas para lá da luta pelas medalhas. Este momento acontece mais 25 minutos depois de cortar a meta o vencedor dos 15km de esqui de fundo, o suíço Dario Cologna. German Madrazo é mexicano, tem 43 anos e começou a esquiar há menos de um ano. Para conseguir treinar juntou-se a outros dois atletas de países sem tradição no desporto, entre eles Pita Taufatofua. Quem não reconhece o nome, provavelmente reconhece a figura: o atleta reluzente e de tronco nu da cerimónia de abertura. E de encerramento. E das cerimónias de abertura e encerramento do Rio 2016. Pita é o atleta de Tonga que competiu no taekwondo nos JO de verão e agora foi também aos JO de inverno. Foi 114º na prova de 15km, logo atrás do português Lam. E são eles os dois, mais o marroquino Samir Azzimani e o colombiano Sebastian Uprimny, precisamente os últimos classificados, quem espera junto à meta para incentivar Madrazo nos últimos metros, que ele cumpre de sorriso nos lábios.