«Não sei se vamos conseguir encontrar um treinador como Jorge Paixão»

O lamento foi feito por um elemento próximo da estrutura diretiva do Farense e reflete um sentimento agregador em relação ao trabalho que o sucessor de Jesualdo Ferreira no Sp. Braga estava a empreender na equipa algarvia.

Jorge Paixão, 48 anos, chegou ao Farense no dia 13 de setembro de 2013, para ocupar o cargo que até então fora de Mauro de Brito. Dois dias depois, assistiu na bancada ao empate (1-1) dos algarvios com o Académico Viseu, encontro a contar para a 7ª jornada da II Liga, e que foi interinamente orientado por Antero Afonso. A primeira vez que se sentou no banco de suplentes do Farense foi no dia 25 de setembro, na derrota (0-2) com o Marítimo, em jogo para a Taça da Liga. Três dias depois, o Farense recebeu o Sp. Braga B, e Jorge Paixão orientou a equipa na primeira vitória no campeonato.

Depois de perder na Madeira (com o Marítmo B) na jornada seguinte, seguiram-se onze jogos consecutivos sem derrotas, com o Trofense (e na jornada seguinte) o Beira Mar a travarem um percurso que levou os adeptos do clube algarvio a sonharem com a subida de divisão.

«No futebol há que dar tempo, é preciso trabalhar e perceber o que está errado. Cabe-me a mim tirar a ansiedade à equipa», disse Jorge Paixão, no dia 12 de outubro, depois do empate (0-0) com o Tondela.

No Farense, a visibilidade do trabalho de Paixão ficou expresso na estabilização defensiva da equipa. Mas Paixão não é um treinador defensivo, e, à imagem de Jorge Jesus com que tem sido comparado, organizava a sua equipa em 4x4x2, num esquema idêntico ao de Jesus, com um trinco bem definido e um médio box-to-box. E tal como o treinador do Benfica, o jogo é para ser vivido com intensidade, sendo difícil fazê-lo sentar-se no banco, preferindo estar de pé junto aos limites das linhas da área técnica. E, com muitos gritos e gestos para dentro do campo.

Exigência e novos desafios

Em Braga, Jorge Paixão vai encontrar um público exigente. Como ele. «Para mim, o Farense sempre foi um clube de 1ª divisão. Se olharmos para a 2ª liga, e sem faltar ao respeito a nenhum clube, o Farense é que tem o maior historial. Olhamos para a moldura humana nos jogos e a sua exigência – e eu gosto muito de público exigente porque também sou assim – e admito que possam criticar quando se joga mal, porque querem ver bom futebol. Eu fazia o mesmo», confessou, no dia 27 outubro, depois de vencer (2-0) o Sp. Covilhã.

Quem o conhece, sabe que é assim. E Jorge Paixão não tem problemas em dizê-lo. É direto e não tem pejo em dizer o que pensa. Seja ao presidente ou ao roupeiro. No relvado, é elogiado pelos métodos modernos de trabalho que têm conquistado os jogadores. E até Paulo Futre, que em dezembro indicou outros voos para Paixão.

Por acreditar muito no seu trabalho e que os erros devem-se exclusivamente a si e à sua equipa, Jorge Paixão desculpabiliza sempre decisões dos árbitros que prejudiquem a sua equipa. «Há quatro elementos importantes num jogo - que são os árbitros - e nunca me vou desculpar com o seu trabalho. No dia em que fizer isso, será uma grande incompetência da minha parte.», assumiu, depois da vitória (2-1), no derby com o Portimonense, no dia 22 de dezembro.

O 12º passageiro

Natural de Almada, chega ao maior escalão do futebol português depois de uma meteórica ascensão ao serviço do Farense na II Liga, depois de dois anos no Qatar pelo Al-Mesaimeer Sports Club. Antes já tinha treinado o Mafra, E. Amadora, Recreativo Caála (angola), Pontassolense, Atlético, Real Massamá, Casa Pia e Almada.

Paixão é o 12.º treinador em onze anos de presidência de António Salvador, que trabalhou com Fernando Castro Santos, Jesualdo Ferreira (por duas ocasiões), Carlos Carvalhal, Rogério Gonçalves, Jorge Costa, Manuel Machado, António Caldas, Jorge Jesus, Domingos Paciência, Leonardo Jardim e José Peseiro.

Na apresentação oficial falou em «guerreiros do Minho», afirmou que a equipa vai estar nas competições europeias e apresentou um discurso pragmático: «O desafio é enorme, trabalhei para isto desde que comecei a minha carreira de treinador. Comecei de baixo, a pulso e este é o momento mais alto da minha carreira. Identifico-me com o clube, e com o presidente que é uma pessoa ambiciosa como eu».

Quanto às comparações com Jorge Jesus aproveitou para demarcar posições. «Não acredito em comparações, não imito ninguém. Respeito o Jorge Jesus que é um grande treinador, fui treinado por ele durante cinco anos, mas não entro muito em comparações», frisou.

Paixão pode ser uma incógnita para muitos, mas António Salvador não tem dúvidas que se trata da aposta certa: «Para vocês é uma surpresa, mas tenho a convicção que daqui a três meses será uma certeza para todos. Desejo-lhe felicidades, esta casa habituou-nos às vitórias, e é com esse intuito que ele vem. Identifiquei-me com a sua vida e com o seu trabalho. Sei que é uma pessoa que vive com paixão o seu trabalho durante 24 horas no dia-a-dia».