Sou pessimista por natureza. E, por ser assim, muitas vezes coloco em dúvida o potencial desportivo de equipas com quem me identifico mais. Ao nível individual consigo reagir melhor, como se percebe das múltiplas opiniões sobre Cristiano Ronaldo, e daí, sem que cá dentro a esperança de adepto se extinguisse, ter deixado claro que não acreditava que fosse possível a Seleção Nacional dar-me a alegria que tantas vezes persegui. Ainda bem, pois, que Fernando Santos esteve sempre convicto do seu ideal.

A minha relação de proximidade com aquela que considero ser a equipa mais bonita do nosso futebol – mesmo quando passa por fases de menor expressão estética, e não tenho culpa de ter sido mal habituado – começou, de forma mais efetiva, a partir de 2000, mas já vinha de trás esse acompanhamento profissional. Por isso, tenho no meu currículo, com muito orgulho, quase uma centena de jogos ao vivo do grande Portugal futebolístico.

A verdade é que depois de quase 14 anos ininterruptos a acompanhar várias Seleções principais lusas – houve um hiato no anterior Campeonato da Europa -, jamais esquecendo o contributo que António Oliveira, Humberto Coelho, Luiz Felipe Scolari e Paulo Bento tiveram nesse amor crescente concluo, agora, que devia ter abdicado muito antes do Mundial-2014, pois provavelmente Portugal já teria conquistado os galardões que de há muito merecia.

É evidente que esta é uma forma simplista de mostrar a felicidade que senti pela vitória no Campeonato da Europa sem, no entanto, modificar algumas das ideias que sempre defendi antes e durante a competição, como a vertente resultadista ou a determinação em deixar para segundas núpcias um futebol que tantas vezes tem maravilhado os adeptos nas mais díspares latitudes.

O certo é que Portugal ganhou, conquistou esse direito com as armas que selecionador e jogadores melhor interpretaram para o fazer, foi crescente o número de pessoas a deixar claro que sempre acreditaram na possibilidade de vitória no momento em que CR7 mostrou o troféu (e todos sabemos que nem sempre a onda foi favorável) e que alguns jogadores que não caíram no goto assim que foi divulgado a convocatória passaram a heróis, como foi o caso de Éder. Sei bem o que escrevi, continuo a respeitar o futebolista, acho que havia opções mais efetivas, mas aquele conferiu-lhe, e bem, como nos filmes, o pomposo título de herói improvável. Ou o milagre de ver-se transformado um patinho feio em cisne…

Independentemente das minhas convicções e de ver a maioria no outro lado da barricada, não consigo percebe o que pretende o chauvinismo francês. Repetir a final porque Portugal foi mentiroso? Só faltava essa depois da história do jogo nojento. Já se esqueceram, está-se mesmo a ver, do golo antecedido de mão de Henry, que ditou o afastamento da Rep. Irlanda do Mundial da África do Sul? Calem-se, tenham vergonha e da próxima não se convençam que se pode vencer antes de jogar…

PS1 – Fernando Santos foi determinante na conquista lusa. Porque mostrou convicções inabaláveis, deixou desde muito cedo claro que Portugal devia ser olhado como candidato e ficou na história da prova quando ainda muito longe do final garantiu que só voltava a 11 de Julho e seria recebido em festa. A verdade é que passados uns quantos dias sobre a chegada ao Olimpo ainda ninguém sabe se o engenheiro será o homem do leme rumo à Rússia. Até porque a FPF ainda nada disse sobre o assunto.

PS2 – O último domingo amanheceu banhado a ouro, com os feitos do atletismo português nos Europeus de Amesterdão, e a ouro continuou durante a tarde. Mérito de Sara Moreira e Patrícia Mamona, mas também de Jessica Augusto, Marisa Barros e Vanessa Fernandes, às quais se juntou Tsanko Ardaunov. Por isso, depois dos comendadores futebolistas, Marcelo Rebelo de Sousa não hesitou nas condecorações aos atletas e a Fernando Pimenta, um dos craques da canoagem.