A história assume contornos surreais. Júlio era na altura jogador do F.C. Porto, marcava golos atrás de golos e foi por isso chamado à Selecção Nacional. Foi a primeira vez que foi convocado, aliás. «Era a fase de apuramento para o Mundial 82», lembra. «Foi um jogo no Estádio da Luz, frente a Israel.»

Supertaça, a história de uma competição que arrancou... com um golo

Ora Júlio começou no banco mas a, mais ou menos, vinte minutos do fim foi chamado pelo seleccionador Juca. «Disse-me para ir aquecer que ia entrar.» Foi todo contente. «Saí pela direita do banco, corri pela linha lateral, dei a volta ao bandeirola de canto e continuei a correr pela linha de fundo», conta.

Depois aconteceu o mais improvável. «Sem saber tinha o preparador-físico José Falcão a correr atrás de mim. Era um homem que usava uns óculos fundo de garrafa. Quando me viro para continuar a correr no sentido inverso, bato com o nariz nos óculos dele e parto a cana. Comecei imediatamente a sangrar.»

Júlio já não entrou. «Ainda hoje tenho a marca da lesão. É uma má recordação que há-de estar sempre comigo e que hei-de levar para a campa. É uma tristeza muito grande que tenho nunca ter sido internacional», diz, ele que pelo meio ainda se chateou com o seleccionador nacional. «Nunca lhe perdoei», diz.

Basicamente o massagista Mário Belo conseguiu estacar a hemorragia com uns agrafos, mas Juca não permitiu que Júlio entrasse. «Disse que não podia ir para dentro de campo a sangrar. Meteu no meu lugar o Manuel Fernandes. Eu fui directo para os balneários e não lhe falei mais. Nunca mais voltei à Selecção.»