Bom toque de bola (já jogou com Maradona), pé direito e grande visão de jogo. O bósnio Emir Kusturica, de 53 anos, é o novo número dez do F.C. Porto.
Pelo menos vestiu a camisola com esse número durante o concerto que deu esta sexta-feira à noite em Vila Nova de Gaia, perante cinco mil entusiastas da sua banda.
Foi a primeira vez que a «No Smoking Orchestra» visitou aquela cidade, depois de já ter estado no Coliseu do Porto no início do ano, mas a empatia com o público foi imediata. Os sons ciganos tornaram o Pavilhão Municipal uma verdadeira tenda de festa durante cerca de duas horas.
Muitos dos entusiastas confessaram ter ido ao concerto por conhecerem a obra do realizador Kusturica, mas deixaram-se levar pela música que mistura o punk-rock com os ritmos tradicionais dos Balcãs. Emir mantém-se tranquilo na sua guitarra, primeiro com uma camisa negra e depois com o equipamento oficial do F.C. Porto, que levava vestido por dentro. Nas costas surgiu o nome Kusturica e o número 10. A casa rendia-se e o vocalista Nenad Jankovic (mais conhecido pelo seu nome artístico de Dr. Nelle Karajlic) explodia de energia.
O concerto surge incluído na digressão «Time of the Gipsies», uma espécie de «ópera punk», que passa por vários temas de filmes de Kusturica, como «Gato Preto, Gato Branco». «Pitbull Terrier» levou o público ao delírio e até trouxe espectadores ao palco. No final, mais de 20 pessoas externas à orquestra dançavam (ou pulavam desconcertadamente) ao som frenético da «Orchestra».
De raízes profundamente sérvias, os elementos da banda não se esqueceram dos motivos políticos, começando por criticar a MTV (com um tema denominado «Fuck you MTV) e passando rapidamente aos pedidos de revolução e de reintegração do Kosovo na Sérvia. O concerto terminou com o hino da antiga URSS.