A nova vida de Pedrinho, em Lorient, pinta-se em tons de rosa. Na pele de emigrante pela primeira vez, o lateral ex-Académica encontrou uma cidade acolhedora, bem no coração da Bretanha, repleta de gente simpática e, para completar o cenário, joga assiduamente e a equipa está até a cotar-se como uma das surpresas do Championnat.

«O balanço, até agora, é francamente positivo. Está tudo a correr muito bem, a nível pessoal e desportivo. Aliás, os resultados estão aí para o provar. Apesar de haver grandes diferenças entre o futebol português e o francês, sinto-me adaptado e enquadrado com esta nova realidade», afirma o defesa ao Maisfutebol.

O Lorient está em sexto lugar e tem acumulado elogios pelo arranque destemido e muito proveitoso. «Estamos dentro daquilo que projectámos. Claro que ir ganhar ao Parque dos Príncipes [Paris Saint-Germain], não é para todos, nem empatar em Lille já nos descontos. Queremos andar dentro dos 10 primeiros lugares até perto do fim. Se isso acontecer, depois podemos chegar à Liga Europa», vaticina.

Lorient é pedrada no charco

Por terras gaulesas, Pedrinho encontrou um estilo mais físico mas, curiosamente, no clube onde está, a filosofia é outra: «Temos uma forma de jogar mais técnica, mais de pé para pé. Praticamos um jogo mais bonito, pelas alas, e em transições, que acaba por favorecer as minhas características. Não se vê muito isto por aqui porque há mais tendência para o jogo directo.»

A «culpa», diz, é do treinador (Christian Gourcuff), um bretão de 58 anos, antigo jogador do Lorient apaixonado pelo futebol-espectáculo, que tem conseguido transmitir os bons princípios aos jogadores. «Por cá, joga-se sobretudo em 4-4-2 clássico, mas falamos de uma língua universal, não há dificuldades em perceber o que é importante», resume.

Por falar em perceber, Pedrinho sente já algum progresso no domínio da língua de Voltaire, até porque, como aluno aplicado na Universidade em Coimbra, soube tirar partido das aulas proporcionadas pelo clube. O resto, foi aprendendo com alguns colegas, entre eles Lucas Mareque, argentino que passou há pouco tempo pelo F. C. Porto.

«Há dois luso-descendentes, Mathias Autret, e o Maxime Barthelme, que falam um pouco português e três argentinos. Tive francês na escola durante três anos mas aqui é outra coisa. Ainda tenho muito que aprender mas já dei entrevistas e até me elogiaram», conta, orgulhoso.

Curso adiado até um dia

Pedrinho é muito pacato. Já em Coimbra era conhecido por ser um rapaz calmo, trabalhador e discreto. O perfil mantém-se no estrangeiro. «Reconhecem-me, por vezes, na rua mas eu gosto de manter a minha privacidade. A cidade é pequena, tranquila, faz-me lembrar um pouco a zona onde cresci, a Póvoa, Vila do Conde, as Caxinas... terras de pescadores, como aqui. Recomendo vivamente. É um sítio bonito, com um centro histórico interessante, sem carros. Gosto de passear com a minha esposa por cá nos tempos livres e pelas regiões limítrofes», elogia.

E do povo francês, que dizer? «Fomos muito bem recebidos. Somos respeitados e preocupam-se connosco, gostam de saber se estamos bem, se nos falta alguma coisa. Em questões de politesse, ninguém os bate. São muito educados. É outra mentalidade, não têm nada a ver connosco.»

Aos 26 anos, o lateral só teve três clubes na carreira. A estabilidade é a sua imagem de marca. «Assinei por quatro anos mas no futebol tudo pode mudar muito depressa. Estou a gostar muito de aqui estar, quero é adaptar-me o mais rapidamente possível. O curso? Teve de ficar em suspenso mas pretendo acabá-lo, é um dos meus objectivos de vida», assegura.