*Com Roberto Rivelino

Lado B é uma rubrica que apresenta a história de jogadores de futebol desde a infância até ao profissionalismo, com especial foco em episódios de superação, de desafio de probabilidades. Descubra esses percursos árduos, com regularidade, no Maisfutebol:


Godfred Donsah ainda não é uma figura particularmente conhecida no futebol mundial mas deverá chegar em breve a esse patamar. O empresário do jogador garante que clubes como Arsenal, Manchester City e Liverpool já demonstraram interesse e a imprensa transalpina avança com o nome da Juventus.

O jogador de 18 anos teve um um crescimento marcado pela perigosa viagem do seu pai, que sobreviveu à travessia de barco até Lampedusa.

2007. Twaku Tachi, progenitor de Godfred, deixa o Gana para se aventurar no polémico caminho rumo a Itália.

Os pais do jovem trabalhavam numa plantação de cocos, assim como o futuro jogador. Que futuro teriam ali?

«O meu pai estava cansado de trabalhar nas plantações, onde também estava a minha mãe e eu. Acreditem, era muito duro. São muitas horas ao sol, mas posso garantir que os cocos de lá são melhores dos que os que se compram em Itália.»

Twaku Tachi deixa Accra e ruma a Tripoli, na Líbia, iniciando a travessia rumo ao continente europeu. Como em vários exemplos recentes, que geram enormes discussões na praça pública, um barco sem condições é o bilhete para a felicidade e a ilha de Lampedusa surge como porta de entrada.

«O meu pai entrou num barco que nem era bem um barco. A Itália para nós era uma miragem, ele tinha a ideia de um emprego e queria dar-nos um futuro melhor, queria que as minhas irmãs fossem estudar.»

A viagem terminou da melhor forma e Twaku, imigrante ilegal em solo transalpino, passou os anos seguintes a trabalhar na colheita de tomates em Campania.

Por essa altura Godfred Donsah trocara o futebol descalço nas ruas de Accra pelo crescimento na Academia do DC United Agogo. O dinheiro que o seu pai enviava de Itália dava outro conforto à família.

Twaku Tachi muda-se entretanto para Como, onde passa a trabalhar num armazém, e garante um teste para o filho no emblema local.



Godfred viaja de avião e impressiona, chamando a atenção de Sean Sogliano, responsável do Palermo. O antigo jogador convida o jovem para o seu clube mas as dificuldades não terminariam por aí.

O médio ganês tinha 15 anos e demonstrava tanto potencial que chegou a treinar com o plantel principal.

«Lembro-me que Miccoli até perguntou que idade eu tinha.»

As autoridades descobriram que Godfred Donsah não tinha a documentação necessária para permanecer em Itália. Era imigrante ilegal, tal como o seu país. Ambos foram deportados.

Felizmente, Sean Sogliano estava deliciado com o talento do jovem e não descansaria até o ver novamente no futebol transalpino. Meses mais tarde, com a situação regularizada, Godfred e Twaku regressaram. De vez.

O dirigente seguira entretanto para o Hellas Verona e seria esse o destino do talentoso ganês.

Godfred Donsah impõe-se rapidamente na equipa Primavera e faz a sua estreia na Serie A com apenas 17 anos. O suficiente para convencer Zdenek Zeman, que tudo fez para o contratar para o Cagliari.

Esta foi a época de afirmação. Com 21 jogos e 2 golos no escalão principal do futebol italiano, Godfred chamou a atenção de vários clubes de topo. Sem nunca esquecer a importância daquela viagem de barco de seu pai rumo a Lampedusa, onde tantas vidas inocentes se perderam pelo sonho de um futuro melhor.