[Este artigo foi publicado originalmente a 26 de junho de 2014, quando Memphis Depay se tornou o mais novo holandês a marcar num Mundial. Após a brilhante atuação no playoff da Champions, pelo Manchester United, decidimos recuperá-lo]

Memphis assume-se como um «caçador de sonhos» e tem a expressão tatuada no seu peito. Nascido em Moordrecht há 20 anos, o extremo do PSV Eindhoven tornou-se o holandês mais jovem a marcar num Campeonato do Mundo. Mas não ficou por aí: novo jogo e novo golo do rebelde.  
 
Suplente utilizado frente a Austrália e Chile, Memphis selou os triunfos da Holanda e conduziu à seleção ao primeiro lugar no Grupo B do Mundial. É a melhor face de um talento aparentemente indomável, marcado pelas dificuldades no processo de crescimento.

Filho de uma holandesa e de um ganês – ou seja, poderia defrontar Portugal nesta quinta-feira, se tivesse respondido afirmativamente ao convite africano -, o jovem sofreu com o divórcio (quando tinha apenas quatro anos) e o afastamento completo do pai.

Memphis nunca superou o afastamento do progenitor e, por isso mesmo, prefere sem conhecido sem o apelido Depay que este lhe deixou. 
 
 

O futebol entrou na sua vida desde cedo, levando o jovem à academia do Sparta de Roterdão com apenas nove anos. Aos doze, transitou para o PSV e foi obrigado a sair de casa, passando a morar em Eindhoven.

Chegava a adolescência e Memphis continuava a demonstrar uma angustiante capacidade para comprometer o seu futuro desportivo. Insolente e temperamental, o criativo motivava a apreensão dos treinadores. A certa altura, o PSV Eindhoven pediu ao técnico Joost Lenders para o acompanhar em permanência.

Lenders seria determinante para a estabilidade do jogador, uma vez que a falta de referências masculinas na sua vida era notória, sobretudo após a morte do avô. Mempis admite que esse momento, aos 15 anos, foi particularmente doloroso.



O profissionalismo aproximava-se e o jovem nunca deixou de treinar com entusiasmo. Porém, ganhou uma nova paixão que podia colocar em causa a relação duradoura: o rap.

Memphis, como vários jovens da sua faixa etária e proveniência, encantava-se progressivamente pelo estilo, as tatuagens que foram cobrindo todo o corpo – até nos lábios – e a música de uma geração por vezes sem rumo.

Em 2011, o técnico Fred Rutten abriu-lhe as portas da equipa principal mas deixou-lhe um aviso: teria de escolher entre o futebol e o rap.

«Disse-lhe que não podia ser o melhor no futebol e o melhor no rap. Que teria de se focar no seu jogo para chegar ao topo. Apresentei-lhe uma metáfora: ‘se fores visitar a tua mãe a Roterdão, demoras uma hora de comboio. Mas se saíres em cada estação, a viagem será bem mais longa. O caminho para a primeira equipa do PSV é igual.»

Memphis fez a sua estreia pelo PSV em abril de 2012 e assinou o primeiro contrato profissional dois meses mais tarde. Hoje em dia, é um dos valores mais entusiasmantes do futebol holandês.

O rap, de qualquer forma, não foi esquecido. É o segundo amor do extremo.



DREAMS foi um dos seus projetos, ao lado de Bollebof (nome artístico de Eder Almeida Vieira, nascido em Cabo Verde) e Eljero Elia, atual jogador do Werder Bremen.

Memphis não evita ligeiros desvios no seu percurso. Ainda assim, mantém-se fiel ao seu desígnio: o «caçador de sonhos».