A saúde da Bundesliga não passa apenas pelo músculo dos clubes de maior reputação internacional. O equilíbrio financeiro e competitivo e a relação de proximidade com os adeptos são as bases para o crescimento de um campeonato que, apesar do indiscutível domínio histórico do Bayern de Munique, conheceu cinco vencedores diferentes nos últimos dez anos.



O ano de 2001 marca, também, uma decisão importante nas estruturas do futebol alemão: o da imposição da regra de «50% + 1», que garante o controlo da gestão dos clubes por parte dos sócios, com exceção do Wolfsburgo e do Bayer Leverkusen, que já pertenciam à Volkswagen e à Bayer, respetivamente. As grandes linhas de ação do Bayern, por exemplo, são decididas por 187 mil membros com direito a voto, enquanto o Dortmund restringe esse direito aos 30 mil sócios com lugar anual.

Como efeito colateral, como os adeptos defendem os seus interesses, a Bundesliga tem, em proporção e mesmo em valores absolutos, os bilhetes mais baratos dos principais campeonatos europeus: é possível ver jogos de Bayern e Dortmund por 13 e 11 euros, e comprar lugares anuais em clubes competitivos, como o Eintracht Frankfurt, por cem euros.



Isso ajuda a explicar uma taxa de ocupação de estádios que causa inveja a todos os outros campeonatos. A título de exemplo, o número médio de espectadores em jogos da Bundesliga, 42 mil, só foi alcançado por um clube em Portugal, o Benfica. E só sete dos 240 jogos da nossa Liga igualaram esse valor. O Dortmund, com uma assistência média de 80.500 é o clube europeu que atrai mais espectadores, mas 13 dos 18 clubes têm valores anuais acima dos 90 por cento. O Nuremberga foi o clube que mais lugares desaproveitou, com 81 por cento de ocupação, invejados em qualquer outro lado.

Direitos de TV em alta

A centralização de verbas dos direitos de TV é outro instrumento usado pela Liga para equilibrar a competição. A exemplo do que sucede na Premier League, onde o primeiro recebe 1,5 vezes a verba do último, há uma fórmula fixa que impede o alargar do fosso: todos os anos, o campeão recebe o dobro do último classificado. Neste ano, o último do atual contrato, o Bayern recebeu 26 milhões de euros, contra 25 para o Dortmund e 13 milhões para o lanterna vermelha Greuter Furth.



A boa notícia para os clubes alemães é que o sucesso internacional e o reforço do perfil do campeonato trouxe benefícios. Assinado em março, o novo contrato, com duração até 2016, vale mais 60 por cento do que o anterior: de 385 milhões por época, o bolo anual passou para 625 milhões/ano. E o aumento mais relevante prende-se com a venda de direitos para o estrangeiro, cujo valor triplicou: de 28 milhões passou para 71 no novo contrato, um crescimento que terá sido ajudado pelo anúncio da ida de Guardiola para o Bayern, em janeiro.



O papão Bayern

Com o equilíbrio competitivo como pressuposto de base, nem tudo é perfeito no atual modelo. Com Guardiola a caminho, a contratação de Mario Götze, a estrela do maior rival, e uma verba para transferências sem paralelo com a da concorrência, há o risco de um super-Bayern fazer abalar as estruturas de um edifício onde os clubes gastam menos de 40 por cento do orçamento em jogadores, contra os quase 70 por cento gastos na Premier League, anterior referência de qualidade.



Com receitas anuais de 370 milhões, quase o dobro dos 189 milhões do Dortmund, o Bayern pode mudar as regras, algo que não passa despercebido aos responsáveis. «Se o Bayern ganhar os dois próximos campeonatos com 20 pontos de avanço, então diria que teremos de mudar alguma coisa», reconhecia ao «Guardian» o diretor executivo da Liga, Christian Seifert, no rescaldo de uma temporada em que os bávaros bateram todos os recordes. Mas esse é um problema para gerir no futuro, se se confirmar. Para já, a Bundesliga vive os dias de glória, colhendo os frutos de um projeto paciente, estruturado, e que deslocou o eixo de poder do futebol europeu.