O Benfica está pelo segundo ano consecutivo na fase de grupos da Liga dos Campeões. Chega lá com inteiro mérito, e em muito bom estilo, após a vitória categórica sobre o Twente (3-1), que teve Witsel e Luisão como protagonistas, e um excelente Aimar a puxar os cordelinhos.

Com Cardozo e Saviola como únicas opções de ataque na convocatória, Jesus optou por guardar o coelho na cartola, apostando em Cardozo como referência fixa do ataque. E se as limitações desse desenho são conhecidas, as suas virtudes também saltam à vista, a começar pela margem de liberdade que dá a Aimar. Ao jogar em zonas mais adiantadas, a influência do argentino dispara, em especial se apoiado por um médio tão conhecedor dos terrenos a pisar como Witsel.

Equilibrado na estrutura, o Benfica não se inquietou com os quatro homens de ataque que o Twente apresentava de início. Em teoria, Ruiz e Berghuis apoiavam De Jong e o gigante Janko nos flancos, mas a superioridade a meio-campo anulava o potencial de perigo do desenho de Adriaanse. Assim, bastaram dois minutos para o Benfica dar o sinal de que estava pronto a mandar no jogo, com Aimar e Gaitán a inaugurarem a carreira de tiro ao alvo em que se transformou a área holandesa na primeira parte.

Aimar como gosta

O argentino esteve sempre no centro das movimentações, muitas vezes transformadas em sequências de tabelinhas à procura de espaços e concluídas com remates de fora da área. Oportunidades claras, houve pelo menos três, em remates de Aimar e Gaitán que saíram a rasar o poste e num tiro de Cardozo que Mihaylov defendeu com a ponta da luva.

Houve também, para além disso, futebol quase sempre fluido e bem desenhado. E a segurança de uma estrutura defensiva que, com Javi e Witsel como quebra-mar, só por uma vez foi posta em causa. Foi aos 35 minutos, num remate em arco do talentoso Ruiz, que passou a centímetros do poste direito de Artur. Era pouco para disfarçar o claro domínio a que os holandeses estavam submetidos. Mas chegava para assustar.

Ao intervalo o público despedia-se com fortes aplausos. Merecidos, à luz dos vários lances bonitos tricotados pelo Benfica, com Aimar no comando das agulhas. Merecidos também à luz da estatística: 15-1 em remates, 8-0 em defesas dos guarda-redes. Só o 0-0 no marcador destoava, deixando uma sombra de inquietação para a segunda parte, avivada por aquele remate venenoso de Ruiz.

Para o Mónaco de bicicleta

Por contraste com o domínio estéril da primeira parte, o recomeço não poderia ser mais perfeito: livre Gaitán, cabeça de Luisão, e Witsel, ao 16º remate da equipa, a encontrar a bicicleta que deixava o Benfica na estrada sem regresso para o sorteio da fase de grupos.

Se o Twente tinha um plano B, não o mostrou: os dez minutos seguintes foram todos do Benfica. Cardozo, por duas vezes, esteve perto de assentar o KO na eliminatória, mas deixou esse privilégio para Luisão, que assinalou da melhor forma, com uma cabeçada ao primeiro poste (59 m), a noite em que se tornou o estrangeiro com mais jogos da UEFA por uma equipa portuguesa.

Adriaanse respondeu de imediato com uma dupla substituição. A entrada do veloz Ola John, que na primeira mão tinha feito a vida negra a Maxi Pereira, trouxe um ligeiro sobressalto ao jogo, e obrigou Artur à primeira de duas defesas de altíssimo nível. Mais encolhido, o Benfica mudava a receita para saídas rápidas em contra-ataque, explorando o adiantamento dos holandeses. E foi dessa forma, ainda antes dos 70 minutos, que Witsel saiu da zona defensiva para coroar uma grande exibição com o 3-0, após excelente lançamento de Cardozo.

A partir daí o Benfica procurou gerir emoções e esforços, e o jogo perdeu fluidez. Aimar esteve perto do 4-0 (Mihaylov negou-lhe o golaço), mas foi o Twente a encurtar distâncias, com Ola John a idealizar o lance e Ruiz a concluí-lo. Nada que chegasse para beliscar uma noite em que o Benfica fez quase tudo bem.