Um Benfica em «slow motion» garantiu o único objectivo da noite, frente ao Otelul e, por paradoxal que seja, bateu recordes com mais de uma década de existência. Quem assistiu ao encontro não diria que tal fosse possível, mas o 1-0 de Cardozo lançou a equipa de Jorge Jesus para marcas históricas e, mais do que isso, fintou algumas das principais equipas que vão estar no sorteio dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

Os destaques do Benfica-Otelul Galati

Desde 1994/95 que os encarnados não venciam o grupo na Champions e isso é sempre de realçar. Mas fica também a exibição encarnada. O golo do Tacuara resolveu as contas, fez de Jorge Jesus o treinador com mais vitórias (21) europeias pelo clube. Quando se consultarem os livros, será esse o registo indicado, mas do desempenho desta noite poucos se recordarão. Um Benfica de serviços mínimos chegou para derrotar o campeão romeno.

A velha relação de Cardozo

Quando Witsel e Gaitán colocaram a nu a diferença de categoria entre as duas equipas, substanciada pelo golo de Cardozo, pensou-se que mais golos seriam uma questão de tempo. Mas este foi passando e só Pablo Aimar corria contra ele, quando conseguia arranjar espaço. O Otelul Galati fechava-se como podia, o Benfica precisava de ser paciente. Mas não era caso para exageros. Os encarnados adormeciam no meio-campo romeno, não percebiam que era pela velocidade que, definitivamente, iriam assegurar os três pontos.

Refém de poucos desequilíbrios, Cardozo desesperava pela bola na área do Otelul. Por isso, saía para vir buscar bola. E entrava naquela velha relação de amor-ódio com a Luz. Ora está no sítio certo para encostar, e é aplaudido, ora tenta tocar com os colegas e, como não é jogador dessas coisas, é assobiado.

Entre o golo e nova oportunidade, passou quase meia-hora. Cardozo atirou ao lado, com perigo, mas até foi na outra baliza que quase se viu um golo. Artur negou-o a Paraschiv por duas vezes no mesmo lance, mas o que era uma suspeita tornara-se evidente: o Benfica não conseguia «matar» o encontro. Mais uma vez, aliás, porque esse tem sido um defeito numa equipa que tem tido equilíbrio, mas tem sido passiva em vários momentos de jogo.

Recorde o Benfica-Otelul

O Otelul pouco mostrara no primeiro tempo, para além daquela ocasião em que Artur teve de se impor a Paraschiv. No segundo, ainda realizou menos. Jesus mexeu na equipa. Tirou um apagado Bruno César e lançou Nolito. Depois retirou Aimar e colocou Rodrigo e acabou com Saviola no «lugar» de Cardozo.

Pouco melhorou o Benfica, apesar de uma outra jogada em que podia ter marcado. Numa delas, Javi Garcia fez metade da Luz gritar, mas a bola passou ao lado da baliza de Grahovac. Sem as ideias de Aimar, restava Gaitán em campo com um pensamento de ataque e golo. Mas até o 20 se lesionou. Ficou em campo, sacrificado (só saiu ao minuto 90), por ordem do treinador.

O Benfica tinha 11 em campo, mas, na realidade, jogava com dez, dado a inferioridade física de Gaitán. E aí, percebeu-se porque a noite não foi de maior sobressalto na Luz. O Otelul há-de ser de alguma galáxia, mas certamente não faz parte desta a que pertencem as estrelas da Liga dos Campeões.

Para já, o Benfica conquista tudo o que tinha como objectivo na Liga dos Campeões, até agora. Mas também sabe que no resto da temporada, na Europa ou em Portugal, um novo desempenho como o desta noite poderá não ter tão bom resultado como frente ao Otelul, uma equipa, um nome, que deu excesso de confiança aos encarnados.