Um campeão de sofrimento! O Sporting está nos quartos de final da Liga Europa depois de reduzir o Manchester City a tostões em 45 minutos, com uma exibição enorme, plena de alma e devoção e que, na segunda parte, se transformou em sofrimento até ao último suspiro do milionário inglês.

Ao intervalo, ouvia-se o rugido do leão em todo o mundo, com um categórico 2-0 no placard. Era uma exibição inesquecível do Sporting, quer para portugueses, quer para milionários árabes ou qualquer ponta de lança bósnio, que começou no banco e, durante muito tempo, dali viu uma lição de história e futebol. Não foi a tempo inteiro? Não, não foi, mas de certeza que Dzeko não vai a esquecer. Nem a lição, nem os nomes que nesta quinta-feira protagonizaram uma noite épica para o leão.

O Sporting levava uma vantagem mínima para o City of Manchester, mas perante a perspetiva de um ataque avassalador, o leão burlou o endinheirado clube do Xeque Mansour. Primeiro, convenceu-o com falinhas mansas de que, com ritmo lento, podia dar a volta à eliminatória. Depois, roubou-lhe o ouro (a bola) e, por fim, deixou-o combalido com duas facadas: a de Matías e a de Van Wolfswinkel.

O chileno tinha um desempenho de sonho, o holandês era letal, mortífero e, sem o saber, marcava o golo que ia qualificar o leão. Em 45 minutos, Sá Pinto não precisou de mexer em nada do que tinha previsto. O estádio era da equipa leonina e dos adeptos portugueses. O relvado era de Matías Fernández. Combalido, sem perceber o que se passava, o descanso só podia ser bom para o ManCity. Fora dominado e derrubado em meia parte de jogo.

Para o segundo tempo, Mancini trouxe um recado claro. Vinha De Jong. Se não era em jeito, era em força, perceba-se. Até então, a defesa leonina fora nota dez. Mas frente a Aguero, Balotelli e Dzeko os espaços pagam-se caro. O argentino recebeu na área, rodou e atirou para o fundo das redes de Rui Patrício.

Não, não é a mão de Deus

A reação do Sporting veio do banco. Sá Pinto tirou Capel e Matías. Lançou Jeffrén e Renato Neto. Reagiu, sim, mas demasiado cedo, ia perceber-se depois. O médio brasileiro cometeu falta para grande penalidade, Balotelli «sentou» Patrício e os ingleses acreditaram que era possível eliminar o leão.

O brilhantismo do Sporting no primeiro tempo deu lugar ao sofrimento. Foi preciso alma, coração, e dentes cerrados. Foi preciso ter fé. Quando Aguero fez o 3-2 e com o City a um golo do apuramento, foi preciso ser inteligente também. Patrício foi. Perdeu tempo e quebrou um pouco o ritmo. Jeffrén levou a bola para o canto, ganhou a falta e os descontos esfumavam-se.

Mas para ser épico, mesmo épico, Joe Hart subiu à área do Sporting, cabeceou e Rui Patrício, num duelo improvável de guarda-redes, defendeu com a mão direita. Pode não ser a mão de Deus de Maradona, mas vai fazer com que os sportinguistas, estejam eles em Lisboa, Brasil ou lá no fundo, onde já é manhã, na Austrália, saiam à rua com orgulho numa equipa que nunca se entregou e na qual, provavelmente, só eles acreditavam. Foi uma derrota maravilhosa, não foi?