27 de maio de 1987 marcou um ponto de viragem na história do FC Porto. Foi a primeira conquista europeia, após a final da Taça das Taças perdida com a Juventus em 1984, mas não seria a última.

«Quando se falar daqui a 10, 20, 100 anos na história dos campeões europeus, em 1987 estará sempre o FC Porto. Mas não nos vamos dar por terminados, vamos querer mais vitórias», avisou desde logo Jorge Nuno Pinto da Costa.

O FC Porto partiu para a conquista da Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental ainda em 1987. Regressou ao topo do futebol europeu mais de duas décadas depois, sob o comando técnico de José Mourinho, conquistando de forma consecutiva a Taça UEFA e a Liga dos Campeões. Em 2004, com Victor Fernández, voltou a levantar a Taça Intercontinental. Por fim, já em 2011, venceu a Liga Europa com André Villas-Boas.

Aquela final de Viena, com Artur Jorge a comandar uma brava formação azul e branca, representou a afirmação de um clube fora das fronteiras de Portugal.

Fernando Gomes, que falhou o jogo com o Bayern Munique devido a uma infeliz lesão, resume da melhor forma o que mudou desde então.

«É o momento da viragem a nível internacional. A partir daí, nós que, em 1984, fomos vistos pela Europa como uma equipa a jogar grande futebol, demos a confirmação do que tínhamos apresentado e foi nossa apresentação ao futebol internacional. O clube nunca mais foi o que tinha sido antes», começa por dizer.

O Bibota considera que o FC Porto teve o mérito de ir em busca de mais, mais e melhor: «O FC Porto não parou no tempo. Fez coisas diferentes, mas tão importantes como o que conseguimos naquele ano. Essa vontade de fazer o clube crescer e trazer novas tecnologias, técnicos que pudessem dar mais ao FC Porto e essa força que teve fez do clube novamente campeão europeu.»

Jaime Magalhães lembra que esse jogo em maio teve continuidade imediata. Em novembro, o FC Porto venceu na Holanda o Ajax (0-1, golo de Rui Barros) e viria a repetir o resultado nas Antas (1-0, golo de António Sousa), já em janeiro de 1988 conquistando a Supertaça Europeia.

Pelo meio, a formação portista foi a Tóquio para uma batalha na neve com o Peñarol (2-1, após prolongamento), chegando ao topo do mundo com a Taça Intercontinental. Fernando Gomes e Rabah Madjer marcaram para os dragões no Japão.

«Logo depois da Taça dos Campeões Europeus vencemos a Supertaça Europeia com o Ajax e fomos a Tóquio vencer a Taça Intercontinental. E a partir daí o FC Porto começou a ser conhecido mundialmente e a ser temido por todas as equipas», sintetiza Jaime Magalhães.

António André fala no respeito conquistado pelo FC Porto, face a essa conquista internacional. Até em Portugal se começou a olhar para a equipa de forma diferente.

«Quando cheguei ao FC Porto algumas equipas jogavam sem respeito nenhum por nós. Depois fomos a Barcelona, ganhámos o torneio, ganhámos outra vez ao Bayern. Já diziam todos: cuidado com esta equipa», explica o antigo médio, acrescentando: «E cá em Portugal também. Seja quem for, o campeão europeu é sempre um toquezinho extra. Mesmo em Portugal pensavam: ‘eh pá, os gajos foram campeões europeus’. Respeitinho é bonito. Quando não nos queriam respeitar…levavam bordoada (risos) Eram três e quatro...»

Esse momento de afirmação fez com que o FC Porto tenha passado a ser «um grande do futebol europeu», nas palavras de Eduardo Luís: «A partir daí manteve sempre uma bitola e competência interessante, até hoje. O FC Porto não parou. Claro que não se pode ser campeão todos os anos, mas tem ganho o maior número e campeonatos desde aí, foi por exemplo pentacampeão. Aqui ou ali uma baixa que é natural e atualmente o FC Porto atravessa a tal fase menos boa que todos os clubes atravessam.»

«Fizemos um jogo extraordinário e as pessoas começaram a ver o FC Porto com dimensão europeia e mundial. Com a liderança do nosso presidente conseguimos manter esta dinâmica de vitórias e voltar a ser campeões europeus. Não sei se alguém voltará a ser na nossa história», diz Frasco.

Exposição temporária no Museu do FC Porto sobre a conquista de Viena

Os dragões enfrentaram o poderoso Bayern Munique com oito portugueses no onze (Mlynarczyk, Celso e Madjer foram as exceções): João Pinto, Eduardo Luís, Augusto Inácio, André, Jaime Magalhães, António Sousa, Quim e Paulo Futre.

João Pinto mantém-se na estrutura do FC Porto e salienta as diferenças. O futebol mudou, os clubes portugueses reforçaram a aposta em jogadores estrangeiros. Para além disso, o tempo de permanência diminuiu consideravelmente. Porém, o antigo capitão acredita num inevitável regresso ao passado.

«O futebol de há 30 anos não tem nada a ver com a realidade de hoje. Éramos seis ou sete jogadores das camadas jovens, outros que não vinham mas jogámos vários anos juntos. Hoje parece impossível, mas se calhar é o caminho que os clubes portugueses vão ter de fazer. Ganhamos em 87 com sete ou oito titulares que tinham jogado a final de 84. Isso é que faz a diferença», conclui João Pinto.