Em condições normais, empatar em casa não é bom. Empatar em casa num dérbi pode ser um pouco menos mau. Empatar em casa depois de ter estado a ganhar costuma até custar mais, deixar marcas.

No entanto, o Sporting empatou em casa com o Benfica e parece que foi ele a sair vencedor. Por quê?

Simples: o Sporting não vive em condições normais. Acresce que na época passada o dérbi tinha sido ganho pelo Benfica com facilidade, a distância entre os dois clubes parecia bem maior do que apenas a segunda circular.

É por isso que faz sentido esquecer um pouco aquilo que são as apreciações comuns (empatar em casa é mau, etc) e salientar o que de bom Leonardo Jardim já conseguiu construir em pouco tempo.

Uma ideia

Leonardo Jardim parece mover apenas os músculos necessários para permitir que as palavras lhe saiam da boca. Nem mais um. Nada excessivo, tudo controlado. Provavelmente não será exatamente assim, nem isso é agora relevante. O treinador do Sporting tem conseguido passar muito bem a sua mensagem, o que se revela crucial. Sólido, credível, Jardim é um homem com uma ideia. Não duas, não vinte, não hoje uma e amanhã outra. Uma ideia. A ideia.

Uma equipa

Quem vê o Sporting jogar percebe que a equipa já entendeu o que Leonardo Jardim quer. Pelos vistos, o treinador também é bom a comunicar nos treinos, no balneário, não apenas para fora. O dérbi foi muito rico do ponto de vista tático e estratégico e grande parte dos movimentos foram iniciados pelo Sporting. Desta vez o leão não ficou à espera, convencido de que neste filme seria uma figura secundária. Bem pelo contrário e o início intenso é prova disso. Muito confiantes nas suas capacidades, bem preparados fisicamente e com uma ideia de jogo, os futebolistas do Sporting acreditaram que podiam ganhar.

Que futuro?

Dito isto, convém evitar entusiasmos fáceis e mais uma vez concordar com Jardim: passaram apenas três jornadas, é muito cedo. E falta maturidade, evidentemente, embora o onze do dérbi não tivesse ninguém da equipa B, como sucedia no final da época passada. Jovens, sim, mas alguns deles já com dezenas de jogos na I Liga (Cédric, Adrien, André Martins, Wilson Eduardo e Carrillo, por exemplo). Mesmo William Carvalho, que aparece como o menino, já soma mais de três mil minutos a competir na Bélgica.

Nunca devemos esquecer que as equipas são processos dinâmicos. O mesmo grupo pode jogar muito bem ou atravessar fases de penumbra. Isto é válido para todos. Num plantel com muita gente jovem e/ou pouco rodada em clubes grandes, o potencial de crescimento é mais elevado, mas o risco também (sim, a maturidade vale pontos). Daí fazer sentido a precaução de Leonardo Jardim, de resto comum a todas as pessoas do clube. E muito bem. Os adeptos perceberam a mensagem e estão com a equipa. Isso é o mais importante, até porque o essencial não se alterou: FC Porto e Benfica têm maior potencial, mais soluções, uma história recente. Isso continua a ser verdade.

O que o dérbi provou é que a ideia de jogo de Jardim é boa e talvez seja possível caminhar um pouco mais depressa do que se previa. Daí o empate em casa, num dérbi, ter parecido uma coisa boa, impossível há uns meses. Creio que mais do que o resultado, os adeptos aplaudiram a ideia e a capacidade de execução da mesma, já muito apreciável.