2004/05 foi a época mais equilibrada dos últimos tempos. Desde 2000 que o título não era decidido na última jornada do campeonato. E a meio, precisamente com 17 jornadas, surge a prova de tudo isto: F.C. Porto, Sporting e Benfica no topo com 31 pontos, Boavista e Sp. Braga com 30. Foi a única vez desde que 1995/96, temporada em que as vitórias passaram a valer três pontos, que uma equipa não se destacou como «campeã de Inverno».
O Benfica sagrar-se-ia campeão no Bessa, com um empate a um golo, mas nem isso seria preciso já que o F.C. Porto faria o mesmo em pleno Dragão, quando estava obrigado a ganhar à Académica. Simão, com a frieza no relvado axadrezado no penalty, seria a principal figura do conjunto treinado por Giovanni Trapattoni, a «velha raposa», que herdara de Camacho uma equipa praticamente inalterada. Nem os problemas físicos que afectaram o extremo na ponta final da época fizeram com que o italiano lhe desse descanso.
A discusão não terá um epílogo. Terão sido os grandes a estar mais fracos, foram os clubes médios a encurtar distâncias? O Boavista de Pacheco, o Sp. Braga de Jesualdo e o V. Guimarães de Manuel Machado surgiam na segunda vaga da tabela e mostravam que a diferença que os separava do sonho era quase tão curta como aquela que permitiu que os do Bessa festejassem o título em 2000/01. Mas a primeira Liga pós-Mourinho também provava que tinha sido o novo treinador do Chelsea o principal factor de desequilíbrio dos últimos dois anos. E equilíbrio também não era só por si sinal de melhor futebol, mantendo o público longe dos estádios depois de um entusiasmante Euro-2004.
As polémicas continuaram e surgiram também novos dados no Apito Dourado. Valentim Loureiro foi suspenso de funções e deixou a Liga fragilizada, com um presidente de recurso. E à margem dos casos, o Benfica e os outros seguiram a curta distância, tropeçando aqui e ali em partes iguais deixando tudo em aberto até ao fim.
Até que chegou o derby. Na penúltima ronda, foi necessário um golo de Luisão a sete minutos do fim para afastar o Sporting da corrida. Com as equipas empatadas antes do desafio, a cabeça de Luisão e o erro na saida de Ricardo, anulavam a vantagem no confronto directo dos visitantes e entregavam-na ao rival. Nem os leões perceberam o que lhes tinha acontecido. O sonho tinha acabado matematicamente.
Onze anos depois, voltava-se a festejar na Luz. O Benfica somava o 31º campeonato nacional. A «velha raposa» podia ir para casa descansado.