Na testa de Danilo esteve o programa político contra a asfixia alemã. Chega de austeridade, de cinto apertado e finanças espartilhadas. Este FC Porto é da Europa e para a Europa, nem que para isso tenha se suportar os anacrónicos ditames de uma troika – Leipzig, Monaco, Besiktas – impiedosa e complicativa.

Três pontos atirados à cara dos especuladores das agências de rating. Sérgio Conceição sai vivo deste combate contra os alemães orientais e preparado para as próximas rondas negociais. A sobrevivência azul e branca vai a testes de stress em Istambul e posteriormente no Dragão, diante de Leonardo Jardim.

Esta noite, o pacote de estratégia anti-recessão morou num par de curiosidades. E no bloco do treinador portista.

A lesão de Marega (muscular e, possivelmente, a exigir paragem longa) obrigou o Porto a mudar cedo do 4x4x2 anti-europeísta para o mais conciliador 4x3x3 (entrou André André); ao intervalo foi o Leipzig a mudar na ordem precisamente inversa, com Timo Werner a juntar-se a Augustin no ataque e os alemães orientais a abdicarem de um terceiro homem no meio.

FICHA DE JOGO E O FILME DA PARTIDA

Curiosamente, os efeitos imediatos da política alemã foram cruéis. Os portistas ficaram entre a espada e a parede, a contar pelos dedos o que lhes restava do soldo uefeiro, mais preocupados em respirar do que em criar.

O golo de Werner empatou o jogo logo no início do segundo tempo – sim, Héctor Herrera fizera o 1-0 num remate rasteiro após livre da direita e ressalto – e sugeriu o fortalecimento de uma realidade que, na verdade, já não existia.

O Leipzig austero, pressionante, intenso, ficara-se pelo minuto 45. Até aí, os visitantes foram aquele gigante que os relatos radiofónicos desenhavam nas nossas mentes nos anos 80. Alemães? Grandes, fortes, maus, comem criancinhas ao pequeno-almoço e equipas portuguesas ao jantar.

Isso já não existe e a segunda parte do FC Porto provou-o. Em superioridade numérica no meio-campo, nem o golo do excelente Timo Werner condicionou o índice médio de felicidade azul e branca. O PIB cresceu, o investimento de Conceição deu juros.

DESTAQUES DO JOGO: um bom Ricardo num jogo de duros

Antes de Danilo fazer o 2-1 já os dragões ameaçavam a revolução, como se centenas de milhares marchassem nas ruas, em protesto contra os malefícios que a bebida energética patrocinadora do Leipzig provoca ao organismo humano.

O FC Porto jogava como nunca jogara antes, encontrava espaços onde antes só via bloqueios, ganhava duelos que anteriormente pareciam condenados à dor e ao desassossego.

Primeiro tempo enrolado, dificílimo sim senhor, mais por responsabilidade do comportamento germânico; segunda parte convincente, alegre e de bem com a vida, mesmo para os mais velhos.

Já dissemos que foi o senhor Maxi Pereira, 33 anos bem vividos, a fechar a contabilidade?