Rabah Madjer e Juary, Fernando Gomes e Paulo Futre, Mário Jardel e Deco. Vincent Aboubakar.

O FC Porto e a Europa, velhos amantes, confidentes, parceiros de uma caminhada de meio século. Contam histórias em comum e sussurram os mesmos nomes. Parecem mais felizes do que nunca.

Um clube com este crédito nas provas da UEFA tem a obrigação de alimentar a relação. O dragão sabe-o e não teve problemas em apertar o pescoço ao grã-fino do principado, o Mónaco, para fazer valer a sua responsabilidade.

Responsabilidade para com os adeptos, as figuras da primeira linha desta crónica, as listas verticais azul e brancas e o escudo colado ao peito. E responsabilidade, já agora, para com os cofres do clube: numa noite, o FC Porto encaixou 7,5 milhões de euros. Seis pelo apuramento e 1,5 pela vitória. Nada mau.   

FICHA DE JOGO E O FILME DA PARTIDA   

O FC Porto podia, de resto, ter ganho ao Mónaco de mil maneiras. Optou pela mais curta: Aboubakar. Não é à toa que o colocamos lá em cima em tão boa companhia. O camaronês é uma reta a fundo para o golo, velocidade furiosa nos olhos dos contrários, um motor em constante aceleração.

17 golos em 21 jogos, mais dois na baliza do bem conhecido Diego Benaglio. O primeiro a aproveitar uma insistência de Brahimi, o segundo a bailar na cara de Glik antes de disparar. Simples, genuíno, eficaz.

Alturas houve, aliás, em que este FC Porto pareceu um ser mitológico, híbrido, carregado pela fantasia africana. Uma figura a que podemos chamar Abouhimi ou Brahibakar. Sim, quase tudo o que de bom o Porto fez saiu da imaginação do argelino e do poder do camaronês.

Veja-se só o terceiro golo: passe em habilidade de Aboubakar, sobre a defesa monegasca, receção e remate de Brahimi, bem no coração da área. Tudo de olhos fechados.

Aboubakar: o caminho mais curto para a baliza do Mónaco

Vítor Baía e João Pinto. Pavão e Cubillas. Branco e Geraldão. Yacine Brahimi.

É a 13ª qualificação do FC Porto para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, mas a memória do adepto – e é só pelo adepto que tudo isto faz sentido – vai mais atrás. Vai ao nevoeiro de Aberdeen e ao golo de Vermelhinho; sobrevoa a final de Basileia em 84 e a perda da inocência europeia; vai ao golo de Seninho em Manchester e aos maravilhosos 5-0 de Bremen. Com o malogrado Rui Filipe.

É por culpa destes pedaços de História que a responsabilidade do presente é altíssima. Mais do que um mero preciosismo desportivo, a presença entre os melhores da Europa é um tributo aos milhões de almas que viveram ou vivem para o clube. Neste caso para o FC Porto, embora a ideia possa ser replicada em outras paragens.

DESTAQUES NO DRAGÃO: Vincent, o insaciável

É verdade que ainda houve um penálti a favor do Mónaco, mais do que duvidoso, bem transformado por Glik e outro que ficou por assinalar por falta do mesmo Glik sobre Brahimi.

Mas, desta vez, o FC Porto soube antecipar as privações e os obstáculos externos, acumulou bem cedo um capital de serenidade capaz de travar ondas de ansiedade e precipitação. E o quarto e quinto golos - uma bomba de Alex Telles e um cabeceamento de Soares -, só provaram que a equipa jogava com a alma dos antecessores e a convicção dos eleitos.

Foi tudo perfeito? Quase tudo. O golo de Radamel Falcao, o melhor marcador da história portista nas provas da UEFA, até aplaudido foi pelas gentes da casa. Gente que, lá está, não esquece quem a serve.

Afinal, tudo isto se resume a uma ideia bem simples: o respeito pelos nomes que abrem o texto e outros que engalanam o museu. Tudo o resto é pontual e efémero.

As expulsões de Felipe e Ghezzal? Justíssimas e reprováveis. Mas nada que destrua uma bela noite de inverno na cronologia do FC Porto, único representante português a partir de agora na Liga dos Campeões.