O Benfica entrou com o pé esquerdo na edição 2017/18 da Liga dos Campeões. Contra um adversário perfeitamente ao alcance, os encarnados desperdiçaram uma vantagem no marcador e pagaram com uma derrota pela letargia após o 1-0.

No regresso de Grimaldo ao onze encarnado mais de um mês após a última aparição do espanhol (contra o V. Guimarães para a Supertaça), Rui Vitória apostou em Filipe Augusto para o papel de elemento mais recuado do meio-campo, em detrimento do grego Samaris.

FILME E FICHA DE JOGO

Primeira parte com um Benfica à procurar de uma brecha na fortificação moscovita. Montado num sistema ultra-defensivo, com linhas propositadamente baixas, o conjunto russo chegou a ter oito homens entrincheirados nas imediações da área de Akinfeev.

Cabia ao Benfica, quase sempre por Pizzi – ora através de lateralizações, ora em busca de movimentações dos homens da frente no espaço entre linhas – acelerar o jogo. E fê-lo: umas vezes pacientemente; outras de modo mais precipitado, com perdas de bola que os jogadores do CSKA aproveitavam para lançar contra-ataques venenosos, quase sempre com Golovin envolvido nas ações.

Cedo se percebeu que, enquanto não conseguisse desfazer o nulo, o Benfica seria empurrado forçadamente para um jogo de paciência que se foi esgotando à medida que a primeira parte avançava para o fim. Prova disso foram os sucessivos remates, quase todos de fora de área: só Zivkovic, num remate forte mas à figura, e Grimaldo num tiro ao poste esquerdo, estiveram perto do sucesso.

Não se pode dizer que os encarnados não tentaram de diversas formas encontrar o caminho da baliza de Akinfeev. A explicação para o nulo ao intervalo reside entre o bloco moscovita e a ausência de velocidade e fantasia quando era mais necessário.

Doses que chegaram nos primeiros minutos da segunda parte. Numa das poucas vezes em que a equipa moscovita foi apanhada em contrapé, Seferovic marcou após cruzamento de Zivkovic, que foi libertado por Grimaldo no corredor esquerdo.

O mais difícil parecia estar alcançado, assim como o golo do Benfica aparentava dar sinais de um início de fim de jogo mais fácil para os homens de Rui Vitória, até porque conjunto russo teria agora de rasgar a estratégia conservadora que trouxe para Lisboa.

Esqueça as leituras prévias, as jogadas por antecipação. O futebol é um livro aberto que se vai escrevendo e cuja história parece querer fugir a quem a tenta controlar. Assim como o Benfica tentou controlar o jogo após o golo de Seferovic e não conseguiu.

É possível assacar responsabilidades à equipa de arbitragem pelo penálti duvidoso assinalado após mão de André Almeida na área encarnada ou pelo castigo máximo que terá ficado por assinalar após carga sobre Seferovic ainda na primeira parte.

Mas a postura dos jogadores encarnados após o 1-0 não pode ser deixada de fora. Antes do penálti convertido por Vitinho (63’), o CSKA esteve perto do golo por duas vezes, primeiro por Golovin, depois por Wernbloom numa desatenção defensiva salva por Varela.

Afetado por uma letargia quase inexplicável – e já sem um apagado Jonas em campo – o Benfica voltou a ser surpreendido a 20 minutos do fim. Novo momento de falta de agressividade defensiva da equipa de Rui Vitória em três atos: no da entrega de Golovin a Vasin, na forma como o defesa russo teve permissão para rodar e rematar e depois porque faltou apoio a um desamparado Varela.

De repente, um Benfica autofágico entregava os três pontos a uma equipa perfeitamente ao alcance e que construiu uma vitória assente em dois lances de bola parada.

Era tarde demais: não havia Jiménez, Gabigol ou Rafa que valessem a uma águia que atacava a reta final num voo picado de pouca cabeça e muito coração.

Saiu por cima um exército que, mesmo entrincheirado na maior parte do jogo e sem artilharia pesada, abateu a águia. À paulada.