Diz a matemática que um zero à direita vale bem mais do que um zero à esquerda e foi por ele que o FC Porto lutou durante 44 minutos, o tempo que passou entre a expulsão de Alex Telles e o primeiro golo da Juventus no Dragão. Empurrado pelo erro do lateral para um jogo de sofrimento, o FC Porto deu-se bem com a fórmula A da Juventus e sucumbiu face à cavalaria. Veio do banco a vitória italiana, que deixa a eliminatória praticamente resolvida e a sensação de que os dragões estiveram nela muito menos tempo do que o esperado.

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A verdade é uma: antes da expulsão do brasileiro, ao minuto 27, já a toada do encontro estava definida. Não foi a inferioridade numérica que empurrou o FC Porto para trás. A Juventus já tinha tratado do assunto. Contudo, o que, até ali, poderia ser visto como estratégico passou a ser obrigação. Ia ser sofrer, sofrer, sofrer. E foi.

Nuno Espírito Santo já tinha preparado a equipa para ter menos bola. Antecipando que a ia passar mais tempo a correr atrás do que com ela, lançou Rúben Neves ao lado de Danilo no onze, apostando na rapidez de processos e capacidade de virar rapidamente o jogo do primeiro. Se o FC Porto ia ter menos bola tinha de ser mais direto.

Não teve tempo de o fazer, já se disse, pela expulsão. Alex Telles viu dois amarelos em dois minutos, ambos justos, saliente-se, embora a dualidade de critérios de Felix Brych, que esteve longe de fazer amigos no Dragão, tenha sido também evidente.

Em igualdade numérica, só tinha havido uma situação de perigo para cada lado. Um livre de Brahimi, em excelente posição, que saiu por cima, e um remate de Dybala, igualmente de frente para a baliza e com o mesmo destino.

Depois, o campo inclinou completamente. Nuno fez o que lhe competia, sacrificando André Silva para equilibrar a equipa com Miguel Layún. A Juventus também fez a sua parte. Não só ao pressionar até às cordas os homens da casa, como evitando qualquer tipo de contra-ataque que animasse as hostes.

Com Pjanic como principal construtor de jogo, a Juventus criou uma teia que envolveu o FC Porto, até o asfixiar. Não o fez com veemência. Ganhou pelo cansaço. Pressionou até ao erro que desatou o nó. O cinismo italiano misturado com a paciência espanhola.

Antes do intervalo, Cuadrado atirou a rasar o poste e Dybala acertou mesmo nele. Depois do descanso, os italianos marcaram, num lance que acabou anulado por fora de jogo, o que não é, de todo, evidente.

Herrera, de cabeça, ainda desperdiçou a melhor ocasião do FC Porto no jogo, antes de começar o jogo dos bancos, onde Nuno foi atrevido, mas Allegri foi letal. O técnico luso arriscou trocando Rúben Neves por Corona, passando a jogar com dois extremos verdadeiros, à procura de um contra-golpe da glória. O italiano, que tinha a dinamite toda em campo, desferiu de revólver o tiro fatal.

Pjaca e Dani Alves, entrados para os lugares de Cuadrado e Lichtsteiner, fizeram dois golos em três minutos. O primeiro quatro minutos depois de entrar. O segundo logo no seguinte.

Em comum, dois erros da defensiva portista, até então a dar conta de si. Ambos no flanco esquerdo, o lado por onde ruiu o jogo e, quem sabe, a eliminatória. Um mau corte de Layún, que até entrara bem no encontro, deixou a bola nos pés de Pjaca, que fuzilou Casillas. Uma falha na marcação a Dani Alves permitiu ao brasileiro colher um centro da esquerda, matando no peito e atirando para o fundo das redes.

Desânimo evidente no Dragão perante um desfecho que tem tanto de lógico como de cruel. E não foi pior porque Khedira, na cara de Casillas, atirou ao lado já perto do fim.

A tentação evidente é pensar que está decidido. Porque o tamanho da montanha que há para escalar em Turim exige heróis. Existem no Dragão?