Primeiro Milão, depois Cardiff. Este sábado, Kiev. O domínio europeu do Real Madrid não conhece barreiras, tampouco fronteiras. Tem um exército incrivelmente resistente, embora já não caminhe de forma triunfal. Fá-lo em pezinhos de lã e com alguma altivez, típico de quem possui recursos diferentes. Ainda assim, acaba, invariavelmente, por sair vencedor.

O Liverpool mostrou-se um oponente à altura na luta pela Liga dos Campeões, sobretudo enquanto Salah esteve em campo. Depois Karius virou protagonista pelos piores motivos e elevou Bale ao patamar de herói «blanco», enquanto Mané tentou contrariar o destino. Porém, esta não era a noite da equipa de Klopp.

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Desde o apito inicial que os ingleses fizeram uma pressão asfixiante e raras foram as vezes em que o oponente ultrapassou a linha de meio-campo com a bola controlada. Os merengues acumularam perdas de bola a um ritmo perturbador e o sofrimento agudizava-se com a passividade sem bola.  Contudo, o ascendente dos homens de vermelho não teve reflexo no marcador.

Van Dijk cabeceou por cima, após uma saída em falso de Navas (17’), Firmino e Alexander-Arnold viram as suas tentativas (24’) esbarrar nos adversários. Pelo meio, o melhor que o Real Madrid conseguiu foi um remate de ângulo difícil por parte de Cristiano Ronaldo que nem deu para aquecer as luvas de Karius.

Contudo, o jogo sofreu uma reviravolta completa devido à lesão de Mo Salah. O egípcio caiu mal num lance dividido com Sérgio Ramos e teve de ser substituído por Lallana. O infortúnio acabou por contagiar os espanhóis que viram também Carvajal abandonar o terreno de jogo por problemas físicos. Ainda assim, os reds saíram claramente em desvantagem na dança das adversidades.

A equipa britânica sentiu a saída da sua maior figura e recuou, permitindo que Kroos e especialmente Modric, assumissem o jogo. Por consequência, os espanhóis tiveram um par de boas ocasiões para se colocarem na frente. Benzema ainda introduziu a bola na baliza, na recarga a um cabeceamento de Ronaldo, mas o lance foi invalidado por posição irregular do francês.

Em sofrimento, o Liverpool precisava do intervalo para redefinir a estratégia. Acabou por ser o Real Madrid a entrar melhor, confirmando os sinais de crescimento deixados no último quarto de hora da etapa inicial. Isco, logo ao terceiro minuto de jogo, atirou à trave da baliza de Karius. Por ora, a sorte parecia proteger o emblema da cidade dos Beatles.

Tudo mudou a partir do minuto 51. Karius cometeu um erro inacreditável – com a bola nas mãos permitiu que Benzema intercetasse a reposição – e viu a bola entrar caprichosamente na sua baliza. Mané ainda remediou o erro do colega de equipa e igualou a contenda quatro minutos depois. Canto de Milner, cabeceamento de Lovren e desvio do senegalês – quarto africano a marcar em finais da LC - dentro da pequena área. Um lance que espelha as debilidades defensivas da equipa de Zidane.

Depois saltou do banco o «furacão Bale». Três minutos após ter entrado, o galês assinou o golo de uma vida, ao marcar de bicicleta. O cruzamento de Marcelo está longe de ser irrepreensível, mas a «chilena» de Bale é uma obra prima: espontânea e primorosa. Um pontapé para a história, do alto dos céus de Kiev. 

O Liverpool não se vergou. A sua história proíbe-o de tal heresia. Procurou novamente o empate e Mané – em destaque depois de saída de Salah – viu o poste devolver-lhe um pontapé em jeito, à entrada da área.

As esperanças do Liverpool desmoronaram-se nas luvas de Karius e ampliaram o feito de Bale. O galês ensaiou o pontapé de meia distância e o alemão deixou a bola fugir entre as mãos. É certo que o pontapé era forte, no entanto, exigia-se mais ao número 1 dos «reds». 

Assim, o Real Madrid igualou um feito com 42 anos de história ao vencer a «Orelhuda» pelo terceiro ano consecutivo e expandiu o seu império ao Leste da Europa, terreno por norma hostil aos países mais a sul do continente. A possibilidade de igualar ou superar as cinco conquistas consecutivas mantém-se em aberto. Alguém ousa dizer que será impossível?