Três equipas portuguesas de volta à fase de grupos, na 60ª edição daquela que é a grande competição anual do planeta. A Taça dos Campeões Europeu mudou de nome, está radicalmente diferente do que era quando tudo começou, em 1955, um torneio limitado a 16 equipas, com 29 jogos para apurar o vencedor. Cresceu muito, a dimensão, a popularidade, o potencial para gerar receitas. Agora a Liga dos Campeões é uma maratona que tem um pontapé de saída em julho, com as pré-eliminatórias, mas que na verdade começa agora.

Portugal volta a ter três representantes, dois anos depois de FC Porto, Benfica e Sp. Braga. É a quarta vez que acontece, nas outras duas, em 2006/07 e 07/08, os protagonistas foram, como agora, os ditos três grandes. Não diz nada de muito especial, olhando para essas épocas. O FC Porto foi, em todas, a única equipa lusa a passar aos oitavos de final, e foi por aí que ficou. Os outros dois representantes portugueses caíram na primeira fase. 

Mas há mais histórias em português nesta Liga dos Campeões. A começar pelos treinadores, são nada menos que seis. Portugal é o país mais representado nos bancos: além de Jorge Jesus e Marco Silva, pelo Benfica e Sporting, ainda há José Mourinho no Chelsea, Villas-Boas no Zenit, Leonardo Jardim no Mónaco e Paulo Sousa no Basileia. Três deles, ironia do destino, defrontam-se no Grupo C.

Mourinho lidera a armada lusa de treinadores no que diz respeito a ambições, claro. De resto, esta é cada vez menos uma prova para clubes de países periféricos. Se os grupos ainda abrem espaço a uma representação europeia mais ou menos alargada e a algumas novidades (este ano, os búlgaros do Ludogorets e os suecos do Malmoe são os estreantes nesta fase), as grandes decisões da Liga dos Campeões são cada vez mais assunto reservado aos grandes da Europa. O FC Porto de 2004 foi o último clube a fugir à ditadura dos vencedores oriundos dos quatro grandes campeonatos: Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália. Foi aliás o único em quase duas décadas: antes dos dragões de Mourinho só o Ajax, em 1994/95.

Os grandes ganham mais no campo e fora dele, numa competição que gerará esta época,  estima a UEFA, 1,3 mil milhões de euros e que atribui um valor fixo para distribuir por cada participante, o mesmo do ano passado. São verbas muito altas para clubes de países que não sejam de topo ( veja quanto ganharam Benfica e FC Porto no ano passado), mas a UEFA reserva boa parte das suas receitas para aquilo a que chama «market pool», distribuição em função do valor do mercado do país. Essa distribuição valeu no ano passado ao campeão Real Madrid nada menos que 20 milhões de euros, a juntar aos 36,6 milhões que ganhou por prémios de presença e performance. No total, os merengues ganharam 57,4 milhões diretos da UEFA pelo título europeu.

O Real Madrid, o primeiro vencedor da então Taça dos Campeões Europeus, entra nesta edição com a 10ª taça na sala de museus. Mas, se a história pesa, a equipa de Cristiano Ronaldo, Pepe e Coentrão também entra com um peso brutal sobre os ombros. Na era Liga dos Campeões, que já leva 23 anos, ninguém conseguiu revalidar o título. Aliás, o troféu nunca foi duas vezes seguidas para equipas do mesmo país. O que representa um desafio adicional para as outras equipas espanholas em prova, a começar pelo Barcelona, um dos favoritos, passando pelo At. Madrid, finalista da última edição.

Apesar das probabilidades históricas adversas, Real Madrid e Barcelona terão de estar entre os principais candidatos nesta edição da Champions. Que tem muita artilharia pesada, mesmo não contando com a presença de históricos como o Manchester United ou o Milan. O Bayern Munique e o Chelsea de José Mourinho dividem com os dois gigantes de Espanha o favoritismo nos barómetros das bolsas de apostas. Depois, há mais gente à espreita. E, claro, a expectativa de alguma surpresa, de que se alimenta o futebol. O desafio começa agora e só acaba a 6 de junho, em Berlim. Vamos lá então.

Todos os jogos, resultados e classificações da Liga dos Campeões 

Terça-feira

Grupo A
Juventus-Malmoe, 19h45
Olympiakos-At. Madrid, 19h45


O finalista vencido da época passada entra em campo na Suécia, frente ao Olympiakos, treinado por um velho conhecido: Michel, que foi referência do Real Madrid. Os «colchoneros» chegam a Atenas depois da vitória sobre o Real Madrid no dérbi de Espanha, que teve caminho aberto pelo português Tiago. O árbitro será Pedro Proença.

Em Turim, o outro jogo do grupo tem como favorta a Juventus, frente a um Malmoe pouco habituado a estas andanças. É a estreia dos suecos na fase de grupos da Liga dos Campeões e o seu treinador, o norueguês Age Hareide, já admitiu que o objetivo é tentar assegurar o terceiro lugar, para tentar passar para a fase a eliminar da Liga Europa: «Gostávamos de jogar dois jogos ainda no ano que vem.» Mas o campeão italiano, um histórico longe de outros tempos, vai ter que mostrar mais que nos últimos anos: não vence a primeira jornada da Champions há cinco anos, no ano passado foi terceira, tendo chegado à meia-final da Liga Europa, perdida para o Benfica.

Grupo B
Liverpool-Ludogorets, 19h45
Real Madrid-Basileia, 19h45


O campeão Real Madrid estreia-se frente ao Basileia, treinado pelo português Paulo Sousa, num momento delicado. A derrota no dérbi acentuou o péssimo arranque na Liga espanhola, com três pontos somados em nove jogos. Ancelotti diz que não há motivo para alarme e garante que não trocaria a a sua equipa por nenhuma outra da Europa, mas a pressão é grande, mesmo que a longa busca merengue pela Décima, a 10ª Taça dos Campeões Europeus, tenha terminado na época passada. Ancelotti que começa uma época europeia na qual pode fazer história: já leva três Ligas dos Campeões, se ganhar mais uma tornar-se-á único. Se acrescentarmos à lista as duas que venceu como jogador, a dimensão ainda é maior. Para isso, claro, precisa de quebrar a velha maldição que impede os campeões de revalidar o título.

O outro jogo tem o David desta Liga dos Campeões frente a um Golias. Os búlgaros do Ludogorets em Anfield, eles que chegaram aqui depois de uma eliminatória épica de play-off frente ao Steaua Bucareste, que acabou com o central Cosmin Moti na baliza a defender duas grandes penalidades . Tudo o que vier agora é lucro para a equipa dos portugueses Fábio Espinho e Vitinha. Uma noite emotiva de resto também para o Liverpool, um histórico de volta cinco anos depois.

Grupo C
Benfica-Zenit, 19h45
Mónaco-Bayer Leverkusen, 19h45


Noite de reencontros na Luz, já se sabe, com o regresso dos ex-benfiquistas Garay, Witsel e Javi Garcia, mais Hulk, os portugueses Danny e Neto, todos orientados por André Villas-Boas.

Especial também o outro jogo, um enorme desafio para o Mónaco de Leonardo Jardim, treinador de uma equipa onde estão João Moutinho, Ricardo Carvalho e Bernardo Silva. Depois de querer e prometer muito na época passada, o Mónaco entrou em processo de desinvestimento, como admitiu o treinador ainda na véspera do jogo. Perdeu qualidade, com as saídas de James ou Falcao, e o arranque de época está a ser doloroso.

Grupo D
B. Dortmund-Arsenal, 19h45
Galatasaray-Anderlecht, 19h45


O grande jogo do primeiro dia da Champions 2014-15. Dortmund-Arsenal já é um clássico, é a terceira vez que se defrontam em quatro épocas. Na última época, dois confrontos na fase de grupos, um ganho pelos alemães em Londres (2-1), o outro pelos Gunners (1-0). Passaram ambos aos oitavos, com os mesmos 12 pontos do Nápoles, que ficou pelo caminho. O Arsenal, que chega aqui depois de passar o play-off, caiu nos oitavos, mais uma vez. O Dortmund, finalista vencido há dois anos, chegou até aos quartos de final.

O jogo entre aqueles que são à partida os protagonistas de segundo plano do grupo acontece em casa do Galatasaray, agora treinado pelo ex-selecionador italiano Cesare Prandelli, à frente de uma equipa onde continua Bruma e que mantém Sneijder, já não Drogba. Do outro lado o Anderlecht, agora com Steven Defour, crónico dominador a nível doméstivos mas irrelevante na Europa nos últimos anos. 

 

Quarta-feira

Grupo E
Bayern Munique-Manchester City, 19h45
Roma-CSKA Moscovo, 19h45

Um jogo-cartaz desta primeira ronda que também é uma história repetida. Três confrontos nas últimas quatro épocas, o último dos quais terminou, na época passada, com a vitória dos ingleses em Munique, que garantiu aos Blues o apuramento, em igualdade pontual com os alemães. Depois da imagem de fraqueza com que se despediu da última edição, vulgarizado na meia-final pelo Real Madrid, o Bayern de Guardiola parte de novo como favorito, e precisa de entrar bem para puxar dos galões, frente a um City com muito dinheiro e muita ambição, mas pouco peso histórico. Mas a Champions chega com vários problemas físicos no plantel para Guardiola resolver. Robben está em dúvida, o defesa Badstuber enfrenta paragem prolongada e Ribery só agora está a voltar.

Ainda há mais neste Grupo E, onde a Roma, vicecampeão italiana, vai querer mostrar que também pode ter uma palavra a dizer, neste regresso à Europa após duas épocas de ausência e jogando no seu estádio frente ao CSKA Moscovo, o membro mais discreto do grupo.

Grupo F
Barcelona-APOEL Nicosia, 19h45
Ajax-PSG, 19h45


Mais um dos candidatos em campo, a ter de lidar com o estatuto de óbvio favorito nesta primeira jornada. Em velocidade de cruzeiro na Liga, três vitórias em três jogos, o novo Barcelona de Luís Enrique recebe o APOEL dos portugueses Mário Sérgio, Nuno Morais e Tiago Gomes, a tentar melhorar o registo de Champions da época passada, quando caiu nos quartos frente ao At. Madrid: a primeira vez desde 06/07 em que não esteve pelo menos nos quartos de final.

Em Amesterdão, no outro jogo, Ibrahimovic regressa ao local onde o mundo do futebol o descobriu, e de onde saiu há 10 anos. Não data muito depois disso a última vez que o Ajax passou a fase de grupos, foi em 2005/06. Teste à ambição dos franceses, depois de duas presenças nos quartos de final nas últimas épocas.

Grupo G
Chelsea-Schalke, 19h45
Maribor-Sporting, 19h45


O regresso do Sporting, seis anos depois, começa na Eslovénia. Frente à equipa menos cotada do grupo, é certo, mas com uma deslocação que colocará os leões de Marco Silva à prova. Num momento delicado em Alvalade, depois de mais dois pontos perdidos na Liga, agora frente ao Belenenses.

O outro jogo do grupo tem como protagonista o super-favorito Chelsea, no terceiro confronto entre ingleses e alemães da ronda. Mais uma repetição da época passada, quando os Blues de José Mourinho levaram tranquilamente a melhor na fase de grupos, com duas vitórias por 3-0. Frente a um Schalke enfraquecido esta época, com apenas um ponto em três jornadas na Bundesliga, não será de esperar surpresas para Mourinho.   

Grupo H
At. Bilbao-Shakhtar Donetsk
FC Porto-BATE Borisov


O FC Porto inicia a sua 19ª presença na Liga dos Campeões no Dragão com uma estreia, o primeiro confronto da sua história frente a este rival ou frente a qualquer equipa bielorrussa. À procura de uma vitória que lhe permita começar a posicionar-se bem no grupo e esquecer rapidamente a má participação da época passada, aliada ao terceiro lugar na Liga, que obrigou os dragões a jogar o play-off, ganho frente ao Lille.

O At. Bilbao estreia-se no novo San Mamés e, embora seja apenas a segunda presença do clube na fase de grupos da Champions, chega aqui com expectativas altas, reforçadas pela eliminação do Nápoles no play-off. Do outro lado uma equipa com presença regular nesta fase, mas ainda à procura da dimensão que permita considerá-lo favorito a algo mais.